A cultura pombalense celebra, nesta semana, uma conquista histórica: o avanço do processo de registro da Festa do Rosário de Pombal como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A notícia, publicada nesta terça-feira, 28 de outubro de 2025, no portal oficial do órgão, representa não apenas o reconhecimento institucional de uma tradição secular, mas a reafirmação da força identitária do povo pombalense e da sua profunda ligação com a ancestralidade negra, a fé e a resistência no sertão da Paraíba.
Trata-se de um passo importantíssimo em uma caminhada iniciada oficialmente em 2019, quando a comunidade, unida em torno de seu orgulho histórico, solicitou o registro da Festa do Rosário e o tombamento da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — templo erguido em 1721 e berço espiritual da devoção que atravessa séculos. Neste ano de 2025, o IPHAN retomou o acompanhamento técnico no município, ouvindo moradores, testemunhando os ritos e reconhecendo a vitalidade de uma celebração que segue viva, pujante e essencial.
Mais que uma festa, o Rosário de Pombal é um complexo cultural — material e imaterial — que envolve o templo barroco, o cruzeiro, o pátio, o casario histórico, a Casa do Rosário, acervos documentais e uma riqueza imaterial que pulsa nos cânticos, nas rezas, nos cortejos, nos tambores e nos grupos populares que enchem as ruas de cor e ancestralidade. A irmandade do Negros do Rosario, o Congos, os Negros dos Pontões e o Reisado ecoam a memória afro-brasileira no coração do sertão.
A devoção ao Rosário em Pombal remonta aos primeiros tempos do Arraial do Pinhancó, fundado em 1698, e se entrelaça com a história das populações negras e dos quilombos da região — Rufino, Daniel e Barbosa — testemunhas vivas da resistência e da espiritualidade que moldaram o cotidiano sertanejo. A festa, celebrada anualmente em outubro, culmina em uma procissão de fé e emoção, momento em que a cidade se transforma em altar vivo, unindo filhos da terra e visitantes num sentimento comum de pertencimento.
O reconhecimento pelo IPHAN reforça a compreensão de que a Festa do Rosário não pertence apenas a Pombal — ela é patrimônio do Brasil. Patrimônio que nasce da terra quente do sertão, da devoção simples e profunda, do batuque dos tambores que atravessam gerações, da presença vibrante da cultura negra que fez e faz história na Paraíba.
Mais do que celebrar o avanço técnico de um processo, celebra-se aqui a força do povo pombalense. Um povo que cuida de sua herança, que luta pela preservação de seus símbolos e que compreende que memória não é passado — é futuro. Ao reconhecer a Festa do Rosário e a Igreja dos Pretos, o Brasil honra uma parte fundamental de si mesmo: sua diversidade, sua fé, sua ancestralidade e sua identidade mestiça e resistente.
Que este passo se converta, em breve, no reconhecimento definitivo. E que a Festa do Rosário continue a iluminar Pombal e o sertão, lembrando que, na terra onde o Rio Piancó corre e a fé se renova a cada outubro, cultura e memória caminham juntas — firmes como o povo que as guarda.
José Tavares de Araújo Neto
