A atual Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Pombal, também conhecida simplesmente por Igreja do Rosario, originalmente dedicada à Nossa Senhora do Bom Sucesso, é um dos mais antigos marcos do sertão paraibano. Construída a partir de 1719, esta igreja é um exemplar notável do estilo barroco colonial e representa um marco fundamental na colonização do sertão paraibano, intimamente ligada à expansão da pecuária no interior do Brasil colônia.
Para entender a história da antiga Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, é preciso voltar no tempo, à chegada dos primeiros colonizadores no sertão da Paraíba. Duas décadas após a fundação do Arraial do Piancó, a fé católica já estava enraizada na vida da comunidade.
Era praxe celebrar missas e construir igrejas como meios de manifestar a fé católica, afirmar a posse do território e catequizar o povo originário, com o compromisso de organizar socialmente as comunidades dispersas. O templo funcionava como centro religioso e instrumento simbólico de poder e controle, consolidando a presença portuguesa e da Igreja Católica nos sertões.
De acordo com o pesquisador Jerdivan Nóbrega, em sua obra “300 anos da construção da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso da Povoação do Pinhancó”, a primeira igreja dedicada à Nossa Senhora do Bom Sucesso foi construída em 1701 e era um templo modesto, não uma pequena capela feita de materiais precários como madeira, barro e palha, como alguns escritores afirmaram equivocadamente.
À medida que a comunidade se expandia, tornou-se necessário construir uma nova matriz. A Irmandade de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi criada com o único propósito de construir a igreja, tendo como fundador e primeiro presidente o Capitão-mor Joseph Diniz Maciel, que era cunhado do Capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo, tido como o fundador do Arraial.
O processo de construção foi regido por pelo menos dois contratos. Um deles, de 29 de dezembro de 1719, foi uma “escritura de comprometimento” onde o Capitão-mor Joseph Diniz Maciel se obrigou a fornecer os materiais de construção, como pedras, tijolos e telhas, e a arcar com os custos do pedreiro. No entanto, em 24 de janeiro de 1721, foi lavrado um segundo contrato com o pedreiro Simão Barbosa Moreira, no qual a Irmandade se comprometeu a pagar o valor total de 600 mil réis em parcelas, com a obra prevista para ser concluída em três anos.
Com a morte do Capitão-mor Joseph Diniz Maciel, que faleceu entre 1721 e 1722, seus fiadores, os enteados Fhelipe Alves de Figueredo e Constantino de Oliveira Ledo, que também eram membros da irmandade, assumiram a responsabilidade pela conclusão da obra. Constantino de Oliveira Ledo se comprometeu a fornecer os materiais restantes e a quitar a dívida no valor de 150 mil réis.
A igreja foi erguida com doações da elite escravista, incluindo os capitães-mores Francisco de Oliveira Ledo e Manoel Martins Viana, que fizeram doações generosas ao patrimônio da igreja.
A ornamentação da igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi financiada por meio de doações. m 1724, o ouvidor-geral da Paraíba, Manuel da Fonseca e Silva, relatou ao rei D. João V sobre a solicitação da comunidade local para elevar o povoado de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó ao status de vila. Além disso, destacou a construção de uma formosa igreja de pedra e cal no sertão, bem como a iniciativa do padre Antônio Rodrigues Frazão em arrecadar doações para ornamentar a imagem da Mãe de Deus do Bom Sucesso.
A igreja demorou a ser ornamentada e, em 1730, o capitão-mor João de Miranda enviou uma carta ao governador da capitania da Paraíba do Norte pedindo ornamentos para a igreja recém-construída. O governador, por sua vez, ordenou que o pedido fosse enviado ao rei de Portugal, D. José I, para que ele concedesse, “como esmola”, os seguintes itens: uma vestimenta de damasco branco, com sebastos carmesins; outra vestimenta de damasco verde, com sebastos roxos; dois frontais das mesmas cores e panos para a estante; duas alvas e um missal; frontais correspondentes para os altares colaterais; e Um pálio e um pano para o púlpito.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso passou por algumas intervenções ao longo do tempo. A mais relevante foi a construção da Capela do Santíssimo Sacramento, que se destaca no lado esquerdo da igreja matriz e foi erguida na segunda metade do século XVIII. Segundo o IPHAN, a obra ocorreu por volta de 1767.
A capela foi financiada por meio de doações. O Capitão-mor Manoel Martins Viana, por exemplo, doou terras e casas em 1761 para a Capela do Santíssimo Sacramento. Além disso, o testamento de Filipe Soares Marinho, em 1776, também destinou uma doação para as “obras da capela”. Embora tenha havido outra doação de terras, essa transação foi anulada pelo bispo da diocese.
Segundo uma lenda popular, a capela teria sido construída por um fazendeiro que alcançou uma graça. A entrada da capela é adornada com um “portão em cedro trabalhado”. O quadro “A Última Ceia” faz parte da ornamentação do altar da capela, e o documento indica que já havia um esforço para ornamentá-la no século XVIII.
Jerdivan Nóbrega de Araújo desmistifica muitos equívocos sobre a construção da igreja no sertão do Piancó. Ele descreve a igreja como uma “joia do barroco plantada no alto sertão paraibano”, digna de apreciação dos mais importantes estudiosos da arte colonial. A igreja foi um centro fundamental para a comunidade, servindo não apenas para o culto, mas também como local de registros de batismos, casamentos e óbitos. Seu espaço físico, muitas vezes, funcionava como salas de aula, ministradas pelo próprio padre.
A construção da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, iniciada em 1719, demorou alguns anos para ser concluída. Em 1897, com a construção de um novo templo, a antiga e bela igreja deixou de ser a matriz da paróquia de Pombal, assumindo um novo orago e passando a se chamar Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Após a conclusão da nova matriz em 1897, a antiga e bela igreja deixou de ser a matriz da paróquia de Pombal, assumindo um novo orago e passando a se chamar Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A pedido de Manoel Cachoeira, o Bispo de Olinda, D. João Fernandes Tiago Esberard, concedeu a mudança de invocação do antigo templo. Essa mudança não apenas preservou o patrimônio físico colonial, mas também consolidou o papel da devoção rosariana e das tradições afro-brasileiras na identidade religiosa e cultural de Pombal.
No âmbito da preservação, a Igreja já é tombada pelo IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba –, por meio do Decreto nº 22.914, de 03 de abril de 2002, o que lhe garante proteção legal e a insere no rol dos bens culturais de relevância estadual. Esse tombamento reafirma seu valor como testemunho da arquitetura barroca sertaneja e como centro da devoção popular, especialmente ligada à Irmandade do Rosário e às festas tradicionais que se mantêm vivas ao longo dos séculos.
Atualmente, também está em fase final de processo de tombamento pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que reúne não apenas a proteção material da igreja, mas também da devoção ao Rosário e da festa popular que dela decorre, além da documentação histórica associada. O processo tramita na área central do Instituto, envolvendo o Depam (Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização) e o DPI (Departamento do Patrimônio Imaterial), e deverá consolidar o reconhecimento da Igreja do Rosário como patrimônio do povo brasileiro, ampliando sua salvaguarda em nível nacional.
José Tavares de Araújo Neto