A atual Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, um dos mais imponentes monumentos religiosos do sertão paraibano, tem sua história entrelaçada com a fé e a determinação de um povo e de seus vigários. Sua construção, iniciada em 1872, um século após a elevação de Pombal à categoria de vila e sua consequente emancipação política, representa não apenas a substituição de uma igreja obsoleta por um templo mais amplo e adequado para os dias atuais, mas também a consolidação de uma nova era para a Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso.

Essa construção foi a concretização de um sonho e da visão do Padre Álvaro Ferreira, sobrinho do ilustre Padre José Nobre Ferreira, da tradicional família Formiga, conhecido como Padre Nobre, herói da Revolução Pernambucana e figura exaltada no hino da cidade.

O novo templo foi erguido para substituir a pequena igreja colonial no estilo barroco, que servia como matriz da paróquia desde os primórdios do século XVIII. Esta antiga igreja, um “verdadeiro monumento histórico” construído por volta de 1721, foi o centro espiritual e social de Pombal por mais de 170 anos. Com três altares de cedro dedicados a Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Dores e Sant’Ana, além de imagens de São Miguel e São Sebastião, ela testemunhou a fundação e o desenvolvimento da comunidade.

Com a conclusão da nova matriz em 1897, o antigo templo passou por uma significativa transformação de identidade. A pedido de Manoel Cachoeira – o mesmo homem negro que viajou a pé até Olinda para buscar a autorização episcopal – o Bispo de Olinda, D. João Fernandes Tiago Esberard, concedeu a mudança de invocação do antigo templo. A partir de então, a antiga matriz colonial passou a ser oficialmente denominada Igreja de Nossa Senhora do Rosário, atendendo ao pedido da Irmandade do Rosário que havia sido canonicamente ereta em 1895. Esta mudança não apenas preservou o patrimônio físico colonial, mas também consolidou o papel da devoção rosariana e das tradições afro-brasileiras na identidade religiosa e cultural de Pombal.

A obra da nova matriz foi idealizada e iniciada pelo Pe. Álvaro Ferreira de Souza, então pároco da cidade. Seu principal auxiliar foi uma figura extraordinária do clero secular: o Padre Hermenegildo Herculano Vieira da Costa, conhecido como Frei Herculano. Nascido em Quixaba (Uiraúna) na década de 1820, filho de Marcelino Vieira da Silva e Maria Circuncisão do Senhor, Frei Herculano era um missionário incansável, um “construtor de templos” que percorreu a Paraíba erguendo igrejas, como as catedrais de Campina Grande e as matrizes de Sousa, Catolé do Rocha, Taperoá, Campina Grande, Areia, Cruz do Espírito Santo, Santa Rita, Itaporanga (Igreja Nossa Senhora da Conceição) Bananeiras (Igreja Nossa Senhora do Livramento), Remígio, todas na Paraíba.

Sob sua liderança, a construção da nova matriz tornou-se uma verdadeira obra comunitária. Conta-se que o Pe. Álvaro e Frei Herculano organizavam o povo: os homens de um lado, as mulheres de outro, cada um com sua função específica. Ao toque dos sinos, todos se reuniam. Uns carregavam tijolos, outros pedras, areia e barro. O entusiasmo era intenso, impulsionado por uma fé profunda. Um dos momentos mais emblemáticos foi o transporte do “brabo” (a viga mestra que sustenta o coro), que veio em um carro de boi até certo ponto da cidade e, dali, foi carregada nos ombros dos fiéis, em uma procissão jubilosa com hinos missionários, hosanas, fitas coloridas e o acompanhamento de dezenas de crianças.

Em 1893, assumiu a paróquia o Padre Valeriano Pereira de Souza. Encontrando as obras praticamente paradas deste o falecimento do Padre Álvaro, ocorrida em 14 de setembro de 1877, ele dedicou-se com fervor à sua conclusão. Sem uma irmandade ativa para administrar os recursos, ele criou o Apostolado do Coração de Jesus e assumiu sozinho a direção dos trabalhos, apelando ao
sentimento religioso de todos os fiéis para que dessem o máximo de si.
Seu esforço foi coroado de êxito. Em 1897, a nova e imponente Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi finalmente concluída e inaugurada.

O ato solene de instalação do novo templo foi um grande evento eclesiástico, reunindo importantes figuras do clero da região. Estiveram presentes:

1. Padre Valeriano Pereira de Souza: Vigário da Paróquia de Pombal e anfitrião da cerimônia.
2. Padre Emídio Cardoso de Souza: Vigário de Caicó, que teve a honra de ser o pregador da missa solene.
3. Cônego Francisco Torres Brasil: Vigário de Souza.
4. Padre Tertuliano Fernandes de Queiroz: Vigário de Catolé do Rocha.
5. Padre Joaquim Alves Machado: Vigário de Patos.
6. Padre Aquiles Sátiro de Souza: Sacerdote residente em Patos.

O Monsenhor Valeriano, ordenado em Olinda em 1892, era natural de Misericórdia (PB). Ele não foi apenas o concluidor da matriz; foi um pastor dedicado que serviu a Pombal por quase sessenta anos, tornando-se uma “relíquia do clero paraibano”. Chamado carinhosamente de “Padrinho Vigário”, seu trabalho estendeu-se além das questões religiosas, prestando relevantes serviços sociais e políticos à comunidade. Em 1942, foi homenageado com grandes festas por ocasião de suas Bodas de Ouro Sacerdotais.

A Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, inaugurada em 1897, é muito mais que uma estrutura de pedra e cal. É um monumento testamentário à fé de um povo, à visão missionária de Frei Herculano e à obstinação pastoral do Monsenhor Valeriano. Sua pedra fundamental foi lançada com a força braçal dos fiéis e cimentada com a devoção de seus vigários, permanecendo até hoje como o coração espiritual e um dos mais importantes patrimônios históricos da cidade de Pombal. Paralelamente, a transformação da antiga matriz na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, atendendo ao pedido de Manoel Cachoeira, garantiu a preservação de um patrimônio colonial e a perpetuação de uma das mais vibrantes tradições culturais e religiosas da região.

Fontes Principais:
SEIXAS, Wilson Nóbrega. O Velho Arraial De Piranhas – Pombal. Grafset, 1962.
FERNANDES, Francisco Orniudo. Frei Herculano, O Missionário Construtor. Revista APMED, Volume 1, Número 1, Julho de 2022.

( * ) – Trecho Livro “A história de Pombal contextualizada no Cenário Nacional” (Título Provisório), de José Tavares de Araújo Neto.

José Tavares de Araújo Neto