O livro “A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa”, de José Tavares de Araújo Neto, faz várias referências à cidade de Pombal, na Paraíba, no contexto da Revolta de Princesa (1930), destacando seu papel estratégico, acontecimentos políticos e sociais, e a presença de figuras-chave durante o conflito. Abaixo, resumo os principais pontos relacionados a Pombal conforme descrito no documento:
Contexto Político e Social:
Pombal é mencionada como um ponto relevante no cenário político da Paraíba durante a Revolta de Princesa, sendo um município influenciado por líderes políticos locais, como o Dr. José Queiroga, uma figura central no grupo aliancista (p. 270). A cidade era palco de tensões entre facções políticas, refletindo as divisões entre os apoiadores do governo de João Pessoa e os revoltosos liderados por José Pereira.
O livro destaca a presença de conflitos e rivalidades políticas, com Pombal sendo um local de resistência e organização contra as incursões rebeldes (p. 275). A passagem da “Caravana Liberal” por Pombal em fevereiro de 1930, durante a campanha eleitoral, também é mencionada, mostrando a importância da cidade nas movimentações políticas da época (p. 102).
Incursões dos Revoltosos em Pombal:
Na tarde abafada do dia 1º de julho de 1930, Pombal foi alvo das tropas rebeldes lideradas pelo capitão João Paulino, um ex-cabo da Polícia Militar que aderiu ao movimento de Princesa. O livro descreve a chegada de um grupo de revoltosos à fazenda Oriente, propriedade do Dr. José Queiroga, onde João Paulino já havia residido (p. 270).
Eles traziam três reféns capturados na fazenda Pocinhos: Tota Assis, seu irmão Galim e Pedro de Oliveira. A estada em Oriente durou três dias. Ordens expressas proibiam qualquer dano à fazenda. O silêncio de Queiroga, político influente, parecia dizer mais que as palavras: era uma conivência muda com o levante. Destaque para os depoimentos de Tota Assis e Pedro de Oliveira que revelaram tudo o que aconteceu no período em que foram mantidos reféns do grupo rebelde.
A fazenda foi usada como ponto de apoio pelos revoltosos, que receberam suporte logístico, como alimentação e contribuições financeiras (p. 270) de fazendeiros aliados e proprietárias, destacando entre estes, os seus primos da familia Queiroga de Assis, conhecidos como os “Cabeçudos”.
Mas a calmaria logo se rompeu. Os tenentes legalistas Manuel Benício e Marques Filho (China), informados da presença dos rebeldes, avançaram sobre a fazenda. Tiros ressoaram pelo vale. João Paulino, prevenido, ordenou a retirada. Um dos seus tombou do cavalo, mas não houve tempo para lamentar. Em fuga estratégica, seguiram rumo à fazenda Ipueira do Peixe, de Alfredo (Dodô) Dantas Vilar, preparada como refúgio.
As incursões em Pombal incluíram saques, depredações e intimidação de adversários políticos. O livro relata um “dia de terror” na fazenda Ipueira e ações no povoado de Paulista, onde os rebeldes causaram destruição (pp. 233-240).
A Fazenda Ipueira foi brutalmente saqueada. O proprietário, Pedro Marques de Medeiros e seu filho José Gregório de Medeiros, relataram posteriormente o horror que sua família vivenciou: arrombamentos, roubo de armas, gado, gêneros alimentícios e até mesmo roupas das crianças. Ao ser avisada da aproximação do grupo, a esposa de Pedro Marques, Maria Isabel, fugiu com os filhos e serviçais para a mata, buscando refúgio. A casa foi então transformada em um acampamento rebelde.
O livro reproduz na íntegra depoimentos do fazendeiro Pedro Marques de Medeiros, proprietário da Fazenda Ipueira, e de seu filho José Gregório de Medeiros, que relatam os referidos acontecimentos.
Atuação de José Américo de Almeida em Pombal:
José Américo de Almeida, como Secretário de Segurança, esteve diretamente envolvido nas operações contra os revoltosos em Pombal. Ele relata sua chegada à cidade e a organização da resistência contra os “cangaceiros”, descrevendo o impacto das correrias rebeldes, como lares abandonados e famílias vivendo no mato (p. 275).
O livro menciona uma “noite de insônia” de José Américo em Pombal, refletindo a tensão e a responsabilidade que ele enfrentava ao coordenar as operações (p. 244).
Em telegramas enviados de Pombal, José Américo informou João Pessoa sobre a perseguição aos rebeldes, incluindo a morte do bandoleiro Cândido Honorato no combate de Almas, próximo à cidade (pp. 274-276). Esses relatórios destacam a tentativa do governo de retomar o controle da região.
Eventos Específicos e Figuras Locais:
A morte de Cândido Honorato, descrito como “terror do sertão”, ocorreu na fazenda Almas, a quatro léguas de Pombal, durante um confronto com a polícia liderada pelo tenente José Guedes. Esse evento foi amplamente celebrado pelo governo como uma vitória (pp. 273-277).
A figura de João Paulino é central nas narrativas sobre Pombal. Sua ascensão no movimento rebelde, sua ligação com a cidade (tendo residido na fazenda Oriente) e a presença de sua esposa, uma mulher armada que liderava revoltosos, são destacadas como elementos que geraram lendas e trovas populares (pp. 269-272).
O livro também cita o escritor Antônio José de Sousa, aliado de José Queiroga, autor de “O Grande Pombal”, que negou o envolvimento do líder político com os revoltosos, apesar das evidências de apoio logístico na fazenda Oriente (p. 270). Entretanto, as evidências sugerem que, embora não assumisse publicamente, o chefe político de Pombal, cunhado de Tavares Cavalcante, candidato ao Senado pela Aliança Liberal, mantinha uma simpatia pelo movimento liderado por seu velho amigo, o coronel José Pereira. Inclusive, há indícios claros de que ele tenha fornecido apoio estratégico e financeiro ao movimento.
Pombal sofreu com saques e destruição durante as incursões rebeldes, incluindo o roubo de objetos, incêndios de pastagens e cercas, e sevícias contra a população (p. 275). O livro detalha o pedido de indenização por danos causados pelos revoltosos, indicando o impacto econômico e social na região (p. 231).
Apesar dos prejuízos, Pombal foi um ponto de reorganização da resistência, com José Américo relatando que os municípios percorridos, incluindo Pombal, estavam “poderosamente organizados” para impedir novas investidas rebeldes (p. 276).
Relevância Cultural e Histórica:
O autor, José Tavares de Araújo Neto, é natural de Pombal, o que confere um olhar especial à cidade no livro. A nota de Verneck Abrantes de Sousa, mencionada no livro, expressa o orgulho de Pombal pelo escritor e pesquisador (p. 8).
A narrativa sublinha a importância de Pombal como um microcosmo das tensões políticas e sociais da Paraíba na década de 1930, ilustrando como o município foi afetado pela Revolta de Princesa e pelas dinâmicas de poder local.
Em resumo, Pombal é retratada no livro como um cenário crucial da Revolta de Princesa, marcada por conflitos armados, tensões políticas, saques e resistência. A presença de José Américo de Almeida na cidade, coordenando ações contra os revoltosos, e a atuação de figuras como João Paulino e José Queiroga destacam o papel de Pombal como um ponto de convergência de interesses e confrontos durante esse período turbulento da história paraibana.
JOSÉ TAVARES DE ARAÚJO NETO