A Revolta de Princesa, movimento armado ocorrido no Estado da Paraíba em 1930, se deu por conta do rompimento do coronel José Pereira, Deputado e Chefe Político do município de Princesa, com o Governo do presidente João Pessoa. O movimento sedicioso havia iniciado desde 28 de fevereiro, o Governo paraibano prometera retomar a cidade de Princesa, ocupada pelos revoltosos, dentro de poucos dias. Já estava em meados do mês de maio e a Polícia Militar da Paraíba não tinha apresentado nenhuma vitória significativa. Muito pelo contrário, amargava uma série de derrotas.
O único grande avanço das tropas paraibanas foi a tomada do povoado de Tavares pela Coluna Leste, sob o comando do Capitão João Costa, ocorrida no final de março. Após intenso tiroteio, os rebeldes foram escorraçados com grandes perdas humanas. A proeza do bravo oficial paraibano foi comemorada com entusiasmo pelo Governo e fartamente divulgada pela imprensa do País. Porém, o que parecia a primeira grande conquista, em poucos dias revelou-se uma “Vitória de Pirro” para o Governo paraibano.
A Coluna Leste, agora acantonada em Tavares, foi sitiada de forma sistemática pelos rebeldes, de modo a não conseguir manter nenhuma interação com o Comando Geral. Desta forma, o Capitão Costa e seus comandados ficaram completamente isolados. O povoado completamente cercado, ninguém entrava, ninguém saía. Além de tiros intermitentes, os rebeldes promoviam intensas algazarras através de ensurdecedoras batidas de latas e outros materiais metálicos, a fim de abalar o psicológico dos seus oponentes. Nessas condições, durante 18 dias, os militares foram submetidos a humilhantes privações, forçados a se utilizarem apenas do que havia disponível no povoado: feijão, milho torrado e água de cacimbas.
Definitivamente a estratégia ofensiva promovido pelas Forças paraibanas não estava surtindo o resultado positivo que se esperava. Os rebeldes, além de bem organizados defensivamente, vinham promovendo constantemente eficientes ataques surpresas, causando significativas baixas nas Forças em operação. Diante desse quadro completamente desfavorável, o Governo paraibano decidiu partir para tomada de medidas mais enérgicas, que vão desde a fabricação de explosivos, aquisição de aviões de combate e a inédita fabricação de um carro blindado.
A missão era fabricar um carro blindado para combate em uma época que o Brasil sequer havia produzido o seu primeiro automóvel, o que era apenas um detalhe na pretensão visionária do presidente João Pessoa. Sem dispor de qualquer tecnologia, o Estado a entregou responsabilidade de fabricação do dispositivo bélico a Duca Paulino, o mais destacado lanterneiro e mecânico de Campina Grande, reconhecido pela sua genial capacidade de recriar peças de automotores que sequer existiam disponíveis no mercado brasileiro.
O “engenheiro improvisado” cercou-se de uma equipe de auxiliares compostos de pessoas que, assim como ele, só conheciam um Tanque de Guerra através de fotografias ou imagens cinematográficas. O Governo ajudou no que foi preciso. Ofertou fotografias externas e internas e disponibilizou a carroceria de um caminhão GMC e pneus da marca Fisk, importados dos Estados Unidos.
Em 1921, José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, irmão do presidente João Pessoa, entrou para história frente a coordenação do programa de modernização das Forças Armadas Brasileira. O oficial paraibano, que esteve na França no período da Primeira Guerra Mundial, foi o responsável pela importação do blindado modelo Renault FT-17, que veio a ser o primeiro carro de guerra a ser incorporado ao Exército Brasileiro. Desta feita, outro membro da família Pessoa estava diante da oportunidade de mais uma vez demonstrar a capacidade criativa do povo brasileiro, notadamente dos paraibanos, através da inédita fabricação de um carro de guerra em solo brasileiro.
O Tanque de Guerra foi entregue com todas as pompas merecidas. Uma equipe do governo seguiu para Campina Grande a fim de receber a grande arma que seria usado contra os rebeldes. Tudo como planejado. Orgulho, Duca Paulino explicou o funcionamento do carro blindado. Houve discursos, seguidos de vivas ao presidente João Pessoa e morras ao Coronel José Pereira.
O monstro metálico seguiria por terra, só que viajando através de seus próprios esforços, já que, devido ao peso e tamanho, não havia veículo capaz de transportá-lo. Era muito pesado e, de tão pesado, sequer conseguir subir a ladeira do “Serrotão”, ponto de acesso ao sertão, localizado na saída da cidade.
A máquina de guerra teve que ser rebocada de volta à “linha de montagem” e dela nunca mais se teve notícia. Provavelmente foi desmontada e vendida como ferro-velho. Queiram ou não queiram, a Paraíba foi pioneira na fabricação de Tanque de Guerra em território brasileiro. A questão de sua funcionalidade é apenas um mero detalhe.
JOSÉ TAVARES DE ARAÚJO NETO