Dias atrás revirando o meu baú fotográfico, encontrei uma foto que me chamou atenção. Nela um amigo elegantemente vestido. Encostado numa janela sertaneja seu olhar mirava um crepúsculo belo e enigmático. Época de sonhos realizados e outros a serem alcançados.
O crepúsculo é um marco divino que separa o dia da noite, a luz da escuridão. Sabemos que o crepúsculo anuncia a chegada do noturno e deixa em nosso âmago a esperança do amanhecer de um novo dia, do retorno da claridade e do calor da vida. Aquele crepúsculo revelado naquele cenário fotográfico projetava sonhos e sonhos do amigo, porém, muito além do dourado céu uma realidade de situações que jamais foram sonhadas naquele instante capturado pela lente de uma kodak.
A fotografia tem o poder de registrar momentos de nossas vidas, como também tem o condão de permitir que anos depois possamos contemplá-la e percebermos como o tempo andou, e que os sonhos idealizados naquele instante de imagem foram alcançados, ou mesmo, foram perdidos no caminhar das horas, dos meses e dos anos. Que o hoje é tão diferente do almejado em tempos idos. Que segredos de outrora o presente transformou em temas insignificantes. Que amigos de convívio diário hoje pouco convivem, seja pela distância física ou em decorrência das circunstâncias impostas por uma nova realidade existencial.
A foto e o crepúsculo, dois tempos, o ontem e o hoje, realidades perceptíveis, uma já vivida, registrada, posta para ser lembrada e analisada, a outra que corresponde ao presente, que no contraponto daquela que consta da foto pode nos mergulhar em reflexões que certamente nos levarão a adequações no prosseguir do nosso viver. Assim é a vida, sonhamos e muitas vezes o tempo nos mostra que as coisas não são como pensamos, como idealizamos. A fotografia nos revela muito dessa fantástica espiral do existir. Tem coisas que nem a obstinação consegue fazer do sonho, realidade.
Aliás, a realidade e os sonhos do amigo, naquele preciso instante fotográfico não correspondem ao que hoje ele vive. O crepúsculo dividiu não só em imagens, mas acima de tudo em realidades inimaginavelmente inconcebíveis, se olhadas de um tempo para o outro, a existência daquele fraterno irmão. Vida, veloz, de tempos e tempos, a serem vividos, mas que sejam com alegria, paz e fé num mundo melhor.
Onaldo Queiroga
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