Dias atrás sai de casa dirigindo meu carro pela BR 230, sentido João Pessoa – Cabedelo. Pelo caminho ao passar em frente a fábrica do Café São Braz, aquele cheiro de saudade invadiu o meu carro. Era um cheiro de café sendo moído, torrado naquele momento, um aroma gostoso que o vento espalhava pelo céu e adentrou em minha alma.
Para mim era uma fragrância de saudade, que me fez voltar, instantaneamente, para um passado que não volta mais, mas que insiste em se fazer presente, carinhosamente, no meu existir.
Aquele cheiro me levou direto para as lembranças de um tempo vivido na torrefação do Café Dácio, do meu avô Antônio Hortêncio Rocha, lá na Rua do Roque, Pombal-PB.
Meu avô era um homem sábio. Quando pedíamos dinheiro, logo ele dizia: “Vamos para a torrefação. Vocês trabalham, aprendem como funciona o comércio e na sexta-feira eu dou o que vocês merecem”. Assim, carregávamos o caminhão e saímos para fazer a “praça” (venda e entrega de mercadorias), atendíamos clientes e prestávamos atenção como aconteciam as coisas na torrefação. Na sexta-feira, ele nos dava um dinheiro, deixando-nos alegres e cientes de que na vida temos que trabalhar para termos as coisas que sonhamos.
Era o aprendizado movido pelo aroma do café, que tatuava no nosso âmago ensinamento para uma vida toda.
Tempo que jamais voltará. Ele, o tempo, sempre jovem, mas nós caminhamos nele e as pedras dessa estrada vão marcando nossos rostos com cicatrizes e rugas, só nos restando a saudade, que nesse caso nos abraça pelo perfume do café.
Toda saudade provém de momentos bons, ninguém sente saudade de coisas ruins. A saudade nutre nosso viver, alimenta o dia a dia, permitindo que renovemos as forças para enfrentar as adversidades do mundo, por isso, sentir o aroma do café é sempre recarregar nossa fé na luta por um tempo de solidariedade e amor.
Onaldo Queiroga