Silvino Ayres foi o personagem central no cenário do cangaço paraibano do final do século XIX e início do século XX. Ele foi uma figura tão marcante que serviu de inspiração para Manoel Batista de Moraes, que adotou o nome Antônio Silvino em sua homenagem.
Silvino Ayres nasceu na fazenda Antonica, localizada no município de Patos, no alto sertão paraibano, próxima à serra do Teixeira. Era filho do poderoso coronel capitão Idelfonso Ayres Cavalcante de Albuquerque, pertencente a uma família influente da região, aliada à família Dantas do Serra do Teixeira, com a qual Silvino Ayres se indispôs posteriormente.
Pompeu Ayres, irmão de Silvino, também teve um destino marcante. Inicialmente, alistou-se no Exército como cadete, beneficiado pelo prestígio da família. No entanto, em 1882 ou 1884, quando comandava um destacamento militar em Campina Grande, desviou uma grande quantia de dinheiro e, temendo punição, desertou. Ele levou consigo os seis soldados sob seu comando e refugiou-se na fazenda Antonica
Sem perspectivas de vida lícita, Pompeu reuniu desertores, perseguidos e criminosos da região, formando um grupo armado que passou a saquear viajantes, atacar fazendas e impor tributos a comerciantes locais. Esse grupo se tornaria uma das primeiras expressões do cangaço na Paraíba.
Diante do crescimento da ameaça, o governo provincial enviou uma tropa para capturar Pompeu e seus seguidores. Em um ataque à fazenda Antonica, as forças militares cercaram a propriedade e, após intenso tiroteio, conseguiram dispersar os cangaceiros. Pompeu fugiu para a serra do Teixeira e acabou sendo acolhido por Delmiro Dantas, chefe daquela família.
Após se esconder por um tempo, Pompeu seguiu para Pernambuco, onde desapareceu dos registros históricos.
Em 1897, Manoel Dantas Correia de Góes Júnior, subdelegado do Teixeira e membro da família Dantas, usou sua posição de autoridade para humilhar os Ayres. Sob o pretexto de que Silvino e seus agregados eram ladrões de cavalos, ordenou que suas casas fossem invadidas e saqueadas, além de permitir espancamentos contra seus aliados.
Diante dessa provocação, Silvino buscou apoio do coronel Manoel Inácio, seu amigo e líder influente no Pajeú. O coronel forneceu armas e homens para que Silvino pudesse reagir. Na noite de 19 para 20 de julho de 1897, Silvino Ayres e 23 homens tomaram a cidade do Teixeira, arrombaram a cadeia pública e libertaram todos os presos.
Eles também saquearam a casa comercial do delegado Manuel Dantas Júnior, que conseguiu fugir pelo telhado. Após o ataque, Silvino e seu grupo retiraram-se para o Pajeú.
Este episódio marcou o ingresso de Nezinho de Batistão no cangaço, que, em homenagem ao seu líder, adotou o nome Antônio Silvino e se tornou um dos maiores líderes do cangaço da história.
O ataque ao Teixeira teve repercussões políticas e militares. Os Dantas intensificaram sua influência sobre o governo da Paraíba, garantindo apoio para perseguir Silvino Ayres e seus aliados. Enquanto isso, o grupo de Silvino se dividiu, e ele passou a se esconder em diversas partes do sertão.
Em 1898, Silvino testemunhou um assassinato cometido por um de seus aliados e decidiu afastar-se definitivamente da criminalidade. Ele passou a viver discretamente na Samambaia, mas continuou sendo alvo da perseguição do governo e de seus antigos inimigos.
Diante da pressão, Silvino foi capturado em uma emboscada e levado para a cadeia pública da capital paraibana. Segundo relatos, foi submetido a maus-tratos, incluindo tentativas de asfixia com cal, para que morresse sem deixar rastros. No entanto, ele sobreviveu e organizou uma conspiração para fugir da prisão, que foi descoberta antes de ser executada.
Em 1906, durante o governo de Álvaro Machado, foi feita uma revisão do processo de Silvino Ayres. Considerado já idoso e sem mais influência no cangaço, ele foi libertado. Seu nome, no entanto, já havia entrado para a história do sertão como um dos grandes inimigos dos Dantas e como o “professor” de Antônio Silvino, que se tornaria um dos cangaceiros mais famosos da história do Brasil.
De volta ao sertão, por duas décadas, Silvino viveu recluso, evitando confrontos e não participando mais dos conflitos regionais. No entanto, os Dantas nunca esqueceram suas ações passadas e aguardavam uma oportunidade para se vingar.
José Tavares de Araújo Neto