O povoado Patos, que originalmente pertencia ao município de Princesa/PB e hoje, denominado Patos do Irerê, é parte integrante do município de São José de Princesa-/PB, floresceu a reboque do progresso da fazenda do mesmo nome, propriedade do abastado fazendeiro Florentino Rodrigues Diniz.
No início do século passado, o faro empreendedor do Major Floro Diniz, como ele era mais conhecido, percebeu que poderia produzir em sua própria fazenda e abastecer cidades e povoações circunvizinhas. Seu olhar clínico anteviu a necessidade de agregar valores ao que a terra oferecia com abundância naquele diferenciado microclima do planalto da Borborema, que representava um oásis localizado em pleno coração do desértico semiárido.
O resultado foi tão surpreendente que em pouco tempo a sua fazenda se transformou em um verdadeiro parque agroindustrial, onde se produzia rapadura, cachaça, farinha, queijo, vinagre, vinho e havia até uma usina de descaroçamento de algodão.
A fazenda Patos foi a primeira localidade do interior da Paraíba a dispor de energia elétrica.
Além da Fazenda Patos, outras propriedades circunvizinhas localizada à sombra da Serra do Pau Ferrada, forneciam produtos para ser manufaturados pela indústria, a exemplos dos sítios Serra do Pau Ferrado, Saco dos Caçulas, Sozinho, Cajueiro, Cajazeiras, Tataíra, Bandeira, Caldeira, Piancozinho, Almas e Pedra, esta última pertencente ao coronel Laurindo Florentino Diniz, irmão do major Floro, que era chefe político de Triunfo.
O major Floro Diniz era filho de Joaquim José Diniz e de dona Luísa Florentino Diniz, assim como os seus irmãos Laurindo, Marçal, Manoel, Joana e Luiza. Marçal e Manoel eram proprietários da fazenda Abóboras, no município de Vila Bela/PE; Joana era casada com Manoel Andrelino Pereira da Silva (Né da Caiçara), filho de Andrelino Pereira da Silva (Barão do Pajeú).
Esta ligação familiar existente entre os irmãos Florentinos Diniz e a família Pereira, que se encontrava em luta armada contra a família Carvalho no vizinho Estado de Pernambuco, fez com que as suas propriedades, Abóboras e principalmente as localizadas no território Paraíba, servissem de homizio seguro para os Pereiras durante o período entre 1907 a 1924.
O primeiro chefe de bando a frequentar essas propriedades com uma certa assiduidade foi Né Dadu, também conhecido por Ne Pereira, sucedido pelo irmão e primo Sinhô Pereira e Luiz Padre, e depois Lampião.
Na fase lampiônica, as correrias do cangaço de enriquecimento passaram a preponderar sobre o cangaço de vingança, que teve seu apogeu na época em que Sinhô Pereira e Luiz Padre combatiam a família Carvalho.
Em 14 de julho de 1918, um filho de Marçal Diniz contraiu matrimônio com uma filha major Floro. O casal, Marcolino Pereira Diniz e Alexandrina Florentina, estabeleceu domicílio no povoado de Patos, que a partir de então passa a ser o mais significativo reduto de cangaceiros, desbancando assim a afamada fazenda Abóboras. Em 1919, Marcolino Diniz era apontado pelas autoridades como um dos maiores fornecedores de armas e munições ao bando Sinhô Pereira e Luiz Padre.
A partir de 1922, face à intensa perseguição das forças policiais paraibanas e cearense por contas de assaltos praticados contra poderosos fazendeiros na região de Catolé do Rocha/PB, o major José Inácio e Sinhô Pereira, as duas mais destacadas expressões do banditismo, deixam Milagres/CE com destino a São João do Duro, no Estado de Goiás, onde já se encontrava Luiz Padre desde 1920.
O bando remanescente, agora sob o comando de Lampião, vai se homiziar em terras dos poderosos Florentino Diniz, onde vivia seu genro Marcolino Diniz, com o qual o novo chefe já tinha afinidade desde a época em que integrava o bando de Sinhô Pereira.
Quando Lampião e chegou à região já encontrou velhos conhecidos que também contavam com uma extensa lista de serviços prestados ao mundo do crime. Dentre estes, destacavam-se Luiz Leão, Sabino das Abóboras, Moreno, Ronco Grosso, Clementino Quelé e irmãos, Moreno, Vicente de Marina, Luiz do Triângulo e seus primos e agregados Chiquito, Quintino, Chocho, Vicente de Marina e Moreno.
Lampião e seus séquitos permaneceram por quase dois anos realizando suas incursões criminosas nas regiões adjacentes, mas, por razões obvias, poupando a Paraíba. “Lampião fazia as safadezas em Pernambuco e corria para a Paraíba”. Foi justamente pela quebra deste paradigma que Lampião caiu em desgraça. Em 27 de julho de 1924, seu bando tomou de assalto a cidade de Sousa, despertando a fúria do coronel José Pereira.
O todo poderoso de Princesa, que até então tinha se fingido de morto, decidiu pôr fim a má fama do espólio político que havia herdado do seu pai, agora transformado em notório bunker dos mais afamados bandoleiros nordestinos. Em agosto daquele mesmo ano, o coronel José Pereira resolve se voluntariar o comando da luta contra o banditismo no interior do Estado, no que foi aceito pelo então governador Solon de Lucena, que o nomeou Comandante de Geral da Forças Volantes da Paraíba.
Para pôr em prática seu ambicioso programa, o chefe político de Princesa contou com a adesão de alguns importantes e experientes bandoleiros, das a exemplo de Clementino Quelé e Luiz do Triangulo, que foram integrados às forças volantes paraibanas, contratados como segundos- sargentos comissionados.
O êxito da empreitada contra os bandoleiros que viviam em constantes correrias nas regiões limítrofes compreendida pelos municípios de Princesa, Conceição, Triunfo, Vila Bela e Flores, contou com a colaboração decisiva do experiente major Teófanes Torres, Comandante de Geral da Forças Volantes do vizinho Estado de Pernambuco. A parceria firmada entre os dois comandantes não permitiu um só minuto de trégua aos contumazes perturbadores da segurança pública.
A luta contra os bandoleiros perdurou por aproximadamente dois anos, quando Lampião foi enxotados definitivamente, indo com seu bando buscar refúgios mais acolhedores nos rincões do Riacho do Navio e da baixada do Araripe, localizada no cariri cearense.
Ilustração:
Parque agroindustrial da fazenda Patos, do major Floro Diniz.
Major Floro Diniz, proprietário da fazenda Patos, tio e sogro de Marcolino Diniz.
Bando de Lampião, fotografado em 1922, na fazenda Pedra (propriedade do coronel Laurindo Diniz), no município de Princesa/PB.
Marcolino Diniz (sentado).
Coronel José Pereira Lima Major Teófanes Torres
Comandante Geral das Forças Volantes da Paraíba Comandante Geral das Forças Volantes de Pernambuco.
José Tavares de Araújo Neto