O livro “A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa”, de minha autoria, evidencia o papel de destaque do tenente Manuel Arruda de Assis na crise militar e política que abalou o sertão paraibano em 1930. Sua atuação, marcada por lealdade, coragem e enfrentamentos difíceis, foi decisiva tanto nos momentos iniciais quanto ao longo da Revolta de Princesa.
Em fevereiro daquele ano, às vésperas da eclosão do conflito, Arruda exercia a função de delegado de Polícia em Princesa. Por determinação direta do presidente João Pessoa, recebeu ordens para deixar a cidade com seu destacamento, levando presos, armamentos, munições e a estação de rádio. No entanto, a operação foi comprometida por dificuldades logísticas e deserções — algumas motivadas pela adesão de soldados ao grupo rebelde liderado por José Pereira.
Apesar das tentativas de cooptação por parte dos revoltosos, Arruda manteve postura firme e leal ao governo estadual. Entre suas ações, destaca-se a desmontagem da estação de rádio, a fim de evitar que fosse capturada pelos adversários, além da recusa em manter policiamento ostensivo, como forma de evitar confrontos diretos.
Mantinha, contudo, vínculos pessoais com os Dantas de Teixeira — especialmente com Alfredo Dantas Villar, o Dodô Dantas, com quem se dizia aparentado — o que o situava em uma rede política local complexa.
Em abril, foi incumbido de chefiar uma missão arriscada para romper o cerco a Tavares, onde a coluna do capitão João Costa encontrava-se sitiada pelos rebeldes há vários dias. Liderando um pelotão formado por recrutas inexperientes e jagunços enviados por Joaquim Saldanha (Quinca Saldanha), Arruda caiu em uma emboscada. A tropa se dispersou, sofreu grandes baixas e ele foi forçado a recuar.
Durante esse episódio, adoeceu gravemente. Espalharam-se boatos sobre sua possível morte ou ferimentos em combate, mas a verdade é que foi acometido por uma infecção intestinal severa, causada por febre tifoide. Foi resgatado por familiares e tratado em Pombal pelo médico Dr. Janduhy Carneiro.
Em meados de maio, mesmo convalescente, foi convocado por José Américo de Almeida, então no comando da resistência legalista, para reassumir seu posto em Piancó — o que reafirma sua importância estratégica no contexto do conflito.
O tenente Manuel Arruda de Assis representa, na narrativa histórica, um símbolo de lealdade institucional, coragem pessoal e sacrifício diante dos eventos violentos da Revolta de Princesa. Sua trajetória é essencial para a compreensão da luta entre o governo paraibano e os revoltosos sertanejos.
JOSÉ TAVARES DE ARAÚJO NETO
