A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais.
Fiódor Dostoiévski
Das tantas coisas que vivi até o dia de hoje já não me surpreende se a verdade passar a ser um inconveniente e a mentira um método para atingir vários propósitos. Nos aproximamos de mais uma eleição política e o cenário é de solo fértil para os mentirosos de plantão, porém de terra arrasada para os incautos eleitores.
Podemos conceituar a mentira como sendo a afirmação imperativa de algo falso ou sob suspeita, um não contar a verdade, ou ainda negar ciência sobre algo sabidamente verdadeiro. A mentira é o famígero ato de ludibriar, enganar, iludir, engabelar no termo bem popular. Todos somos suas vítimas e, em ano eleitoral, invariavelmente somos também seus evangelistas.
Em um parágrafo mais psicológico: mentir é o processo onde se tenta, deliberadamente, convencer outrem a crer e aceitar aquilo em que nós mesmos não acreditamos. E todo esse esforço é pervertido em nome da obtenção de vantagens ou benefícios – de muitas naturezas – para sí ou para os seus. Em ano de eleição podemos traduzir a cena como sendo a maçante tentativa de persuasão de votos para um candidato ou grupo do qual nós mesmos desconfiamos.
Nos pleitos eleitorais existem aqueles que disputam as cadeiras eletivas, aqueles assentos bem remunerados e confortavelmente habituados em salas com temperatura agradável. Lá onde servem cafezinho e água aos visitantes. Lá onde os iludidos se acham representados e os representantes se empanturram de bajulações. Existem, também, os ingênuos cidadãos que se descabelam durante as campanhas eleitorais na defesa de “sua mejaestade o meu candidato!”.
Muitos chegam aos extremos e, no percurso até o escalpelamento de sua dignidade cidadã, destroem amizades e rompem laços familiares em defesa das “verdades” proferidas pelo seu postulante a líder do povo pobre e de todas as minorias. Não conjectura o imprudente eleitor que a mentira é muita vezes tão involuntária quanto a respiração no alto do palaque, nos comícios e nas reuniões a portas fechadas. Porque já se naturalizou como prática, eficiente e efetiva.
A cada pleito eleitoral a mentira se esparge e se avoluma como método. Hitler disse que “as grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha.” É o que vimos assistindo de uns tempos para cá. O falso elevado a verdade não pode mais ser um detalhe, uma minudência. Ele precisa ter o tamanho da ignorância, do ressentimento, do ódio contra os adversários e possuir o peso da desinformação, da pouca leitura, da desinteligência e da servidão voluntária.
Para esse propósito os espaços virtuais são ótimos disseminadores. Uma vez plantada em solo cibernético a calúnia, a difamação, as fakenews dão frutos a mil por um; e a volta ao mundo sem que a verdade tenha sequer tempo de calçar as sandálias. Em não sendo debelada e “dita mil vezes torna-se uma verdade”, já disse o Ministro da Propaganda do Führer. Se nunca descoberta uma mentira é o mesmo que se permitir o estabelecer de uma verdade. Isso é assustador!
Por fim, aos pleiteantes às poltronas municipais desejamos sorte e reclamamos que mintam pouco, ou quase nada. Em não sendo possível colossal feito, que se presumam capazes de jamais proferir uma mentira que não possam provar. E viva a liberdade de expressão!
Francisco Jarismar
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB
CONTATO: [email protected]