“Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje.”
Ditado Iorubá
Iorubá representa toda uma etnia, uma nação de milhões em língua e cultura. A mitologia africana, também chamada de mitologia dos iorubás, é monoteísta e tem como deus supremo o Olorum. As narrativas são muito semelhantes às de outras crenças, principalmente as nascidas no Oriente Médio, citemos o judaismo e o cristianismo, que professam o Pentateuco Mosaico.
A nossa narrativa começa pela criação da existência. No princípio era o vazio e em meio ao nada estava Olorum, o Ser Supremo dos Iorubás. Em sua glória e poder o maior de todos deliberou por criar tudo o que existe. Todas as coisas passaram a existir a partir da vontade primeira e suprema do criador Olorum. E a mesmice cedeu lugar a diversidade, e a acinesia se fez movimento. E por ser tamanha a obra da criação e por tudo que ainda se faria existir ele criou as divindades, os orixás (forças puras e imateriais), e a eles delegou a tarefa de continuar sua obra.
Em uma existência de constante evolução Oxalá, o primeiro filho de Olorum, foi encarregado da criação do universo e dos seres humanos, que habitariam o paraíso e dele cuidariam. Após quatro dias aterrando pântanos e separando águas, o paraíso estava concluído. Para a feitura do homem foram realizadas algumas tentativas com moldes em água, em madeira, em ferro, em fogo mas, nenhum desses elementos foi apropriado. Porém, Nanã, uma das orixás casada dom Oxalá, sugeriu a matéria prima do barro para dar forma ao novo ser. A escultura em barro foi assinada por Obatalá e Oduduá, e assim foram moldados os bonecos e neles soprado o emi (o sopro da vida).
No começo o Orum (céu dos Orixás) e Àiyê (terra dos humanos) estavam em constante união. Divindades e humanos coabitavam sem restrições. Até o dia em que Olorum decidiu pela separação. O motivo fora a fúria de Olorum ante a ambição, a inveja, o deszelo, a displicência e o descompromisso dos homens com o éden em que habitavam. A partir daí a separação se fez. As divindades habitariam os céus e os mortais viveriam na terra, divididos em tribos por não mais gozarem da harmonia inicial. Os orixás ainda se comunicariam com os homens, mas somente pelos efeitos da manifestação em um deles.
Deus supremo da mitologia africana, Olorum é o criador de tudo e pai de todos. Foi ele quem criou todas as divindades existentes. A vida no planeta é governada por Oxalá, dentre todos os orixás o maior e mais respeitado. Sob o comando de Oxalá foi criado o mundo, os homens e tudo o que neles habita. E assim o é para todo o sempre.
A obra da criação é imensa e sem fim. Oxalá e Iemanjá “Yèyé omo ejá”, que quer dizer, “Mãe cujos filhos são peixes” procriaram as demais divindades. Ele pai, ela mãe de muitos dos orixás. Os reinos animal e vegetal ficam sob a responsabilidade de Oxóssi, que também cuida do ensino, da arte e cultura da humanidade. Insã é a mãe e cuidadora dos céus, raios e tempestades, é filha de Iemanjá e Oxalá e irmã de Ogum, Exu e Oxóssi.
Para que reine a ordem, a paz e a harmonia no seio da criação é necessário que haja justiça. Xangô, no uso da sua virilidade, agressividade, violência e senso de justiça é o orixá da correção divina entre nós. A fortuna, riqueza, continuidade e permanência de todas as coisas é assistida por Oxumaré. Exu é o mensageiro entre os céus e terra, e o mantenedor da harmonia e da ordem no espaço sagrado.
Por séculos o culto iorubá foi proibido no Brasil. Para professarem a sua crença e fé os escravizados tiveram que associar os seus orixás aos santos da Igreja Católica, a essa relação chama-se sincretismo. E nesse contexto, para cada santo existe um correspondente orixá. Para fazer essa correlação é só se libertar do preconceito, deixar-se instruir e deslindar, porém, pela razão. Axé babá!
Francisco Jarismar
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB
CONTATO: [email protected]