Escrever uma crônica de Natal é como compor um poema de amor, prazeroso e dificílimo. Prazeroso porque o tema nos remonta ao nosso sentimento mais nato: o amor. Dificílimo porque em matéria de amor a gente tem a inevitável certeza de que nada mais resta a dizer, os poetas consumiram todo o vernáculo, o que infelizmente nos torna apenas um cronista reincidente, enfadonho e repetitivo, nada mais.
Assim, uma crônica de Natal sempre parecerá que não é inédita! Sempre trará a desconfiança de que já foi escrita, reescrita, e que todas as suas variantes já foram escasseadas por tantos outros cronistas.
Neste particular, a tarefa se torna desafiadora. A minha intenção, creio eu, era iniciar me pautando por uma reflexão mais voltada ao social com passagens obrigatórias nas simbologias das coisas no contexto de um mundo ancorado em padrões estéticos e econômicos pré-definidos, onde a figura de Jesus menino aos poucos vai se perdendo no midiático colorido consumista do Papai Noel.
Mas, essa abordagem também não me parece inédita, o que torna a minha crônica de Natal tão somente mais uma crônica de natal. Pouco reflexiva e previsível.
Entrementes, é preciso dizer alguma coisa. Escrever algumas linhas. Não nos convém não ter escrito a nossa crônica de Natal.
Recorro-me a memória. Resta-me tão somente as minhas reminiscências, iguaizinhas a tantas outras de outros tantos natais já escritos. Porém, nos natais da minha infância havia algo de ineditismo. Ele não era igual aos dos outros, ele era o nosso Natal! Lembro, por exemplo, que em nossa casa sempre tivemos uma pequena árvore de natal. Bolas coloridas de vidro enfeitavam lhe os galhos e caixinhas de fósforos fingiam ser presentes espalhados em seu tronco firmado em um balde de areia para não cair. Era costume ajudar a minha mãe a montá-la cuidadosamente dentro daquele recipiente. Era um trabalho delicado, não se podia quebrar nenhuma daquelas bolas de vidro. Não havia como repô-las.
A nossa ceia era sempre muito simples, mas muito verdadeira. A família se reunia em volta da mesa. Jantávamos cedo da noite. Não havia peru, panetone nem bacalhau. Haviam doces sobre a mesa e alguns refrigerantes. Uma ceia modestíssima. Acho que neste particular o nosso Natal alcançava algum ineditismo.
A minha mãe era muito religiosa, mas, curiosamente, o nosso Natal não me parecia muito religioso. Não rezávamos antes da ceia. A única referência de fé que tínhamos naquela noite era a certeza de assistirmos, sonolentos, a missa do galo na velha Igreja Matriz da cidade de Pombal-PB. Um compromisso inadiável para todos da família.
Por outro lado, o Papai Noel só nos visitava após a celebração religiosa, penso eu, pois sempre nos encontrava dormindo. Nunca tivemos a chance de encomendarmos previamente ao velhinho os nossos próprios presentes, no meu caso, a minha tão sonhada bicicleta monareta Monark azul. O meu sonho mais inarredável.
Confesso que nesse aspecto o Papai Noel nos ajudou bastante. Nunca me trouxe a bicicleta, mas alimentou em mim uma imorredoura esperança, uma capacidade de continuar sonhando, sonhando, sonhando… esperando, quem sabe, os meus inalcançáveis presentes azuis.
Teófilo Júnior