Tempos atrás, na varanda da casa de D. Milina no Sítio São João, vizinho ao sítio Santa Maria, Zona Rural de Pombal-PB, conversei demoradamente com o septuagenário Sr. Francisco Gomes Filho, conhecido como Francisquinho de D. “Pretinha”. Uma conversa agradável e muito animada onde ele, empolgado, falava-me com entusiasmo sobre a importância do livro “Lunário Perpétuo”. Eu não conhecia o livro nem tampouco havia ouvido falar sobre tal edição.
Anos mais tarde, já com o falecimento do Sr. Francisquinho Gomes, tomei o livro por empréstimo a uma de suas filhas, motivado pela curiosidade, fruto daquela conversa de outrora, e também pelo fato do livro ter sido abordado no samba-enredo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, vice-campeã do carnaval carioca de 2024. O samba “Com a Sorte Virada pra Lua Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda” tratava do Lunário e também homenageava o pombalense Leandro Gomes de Barros.
Mas, voltemos ao Lunário do Sr. Francisquinho Gomes.
Pois bem, o Lunário Perpétuo foi um almanaque ilustrado com xilogravuras composto por Jerônimo Cortês e publicado em Valência em 1594. Foi reeditado inúmeras vezes ao longo de séculos, com variações em seu título e conteúdo. O título completo original era Lunario perpetuo el qual contiene los llenos y coniunciones perpetuas de la Luna, declarando si seran de tarde o de mañana.
Este almanaque surgiu numa época em que tais publicações eram muito populares, favorecidas pela recente invenção da imprensa de tipos móveis, que barateou enormemente o preço dos livros e os tornou acessíveis para a população de baixa renda.
Para muitos camponeses os almanaques foram os únicos livros que leram em suas vidas, e onde aprenderam as primeiras letras. Como seus congêneres, o Lunário Perpétuo oferecia conselhos e orientações sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da lua, dos eclipses do sol e das festas móveis, previsões do tempo, horóscopos, elementos de direito, navegação, teologia, saúde, agricultura, maneiras de interpretar o comportamento dos animais, biografias de santos e papas, e outros dados de interesse geral.
O livro gozou de amplo favor das elites bem como do povo, recebendo inúmeras edições, o exemplar do Sr. Francisquinho data de 1945, finalzinho da 2ª Guerra Mundial.
É de se dizer que o almanaque, foi um dos livros escritos em castelhano mais populares de todos os tempos. Era particularmente útil para os agricultores, dando-lhes instruções para organizar sua rotina ao longo do ano e com isso fazer boas colheitas.
É uma pena que o Sr. Francisquinho Gomes não esteja mais aqui para continuarmos aquela animada conversa e discutirmos melhor o seu velho Lunário Perpétuo.
Teófilo Júnior