O gabinete do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, adotou uma série de medidas nesta semana para garantir a igualdade entre os gêneros e atrair um número maior de mulheres para as Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs.
As propostas visam alinhar alguns procedimentos dentro das Bundeswehr, com o recente reforço das leis que asseguram oportunidades iguais dentro do governo, de modo geral.
O governo vê a necessidade de aumentar o contingente da Bundeswehr e ampliar suas capacidades militares em reação á guerra provocada pela Rússia na Ucrânia.
“As mulheres estão subrepresentadas na Bundeswehr”, afirmou o porta-voz do governo alemão, Steffe Hebestreit, na última quarta-feira (26/07).
Segundo a definição do governo, a representatividade ocorre quando o percentual de mulheres excede 20%. As autoridades de defesa, por sua vez, querem que as mulheres ocupem ao menos a metade das profissões no contingente médico da Bundeswehr.
Nos dois casos, os números estão abaixo do desejado. De acordo com os dados do governo, as mulheres são somente 9,5% do total da Bundeswehr e 45% dos médicos militares.
Se excluídas as funções civis de apoio, a Bundeswehr possui 180 mil membros em todos os setores. Destes, quase 24 mil são mulheres. Dados militares revelam que a parcela feminina aumentou, ao mesmo tempo em que o contingente diminuía progressivamente desde o fim da Guerra Fria.
O governo entende que aumentar a participação de mulheres nas Forças Armadas é uma forma de contribuir para a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030 da ONU. Segundo Hebestreit, “o empoderamento de meninas e mulheres” é um dos pilares dessa agenda.
Reforço ao alistamento
As reformas se concentram primeiramente nos salários, tanto dos militares da ativa quanto dos que estão na reserva, e visam ainda melhorar os serviços de apoio às crianças, idosos e de familiares com problemas de saúde.
Se a melhora nos salários e a oferta de serviços trouxer alívio ao tipo de trabalho doméstico não remunerado do qual elas ainda tendem a assumir a maior parte, o governo espera que isso possa criar uma abertura ou um incentivo para que elas adiram á força de trabalho, o que inclui trabalhar nas Forças Armadas.
Embora as novas provisões não signifiquem um novo caminho rumo à paridade de gênero, elas se somam aos outros esforços nesse sentido em outros departamentos e no setor provado. Alguns partidos políticos, por exemplo, decidiram lançar 50% de candidaturas femininas e masculinas nas eleições.
O Bundestag (Parlamento alemão) reforçou leis que possibilitam o acesso das mulheres a posições de liderança nas empresas.
“Mundo masculino”
Quando formam fundadas as Forças Armadas da antiga Alemanha Ocidental, em 1955, as mulheres foram barradas. Isso somente viria a mudar em 1975 e, mesmo assim, elas eram limitadas ao contingente médico.
Mesmo após a abertura de todas as funções militares às mulheres, em 2001, o departamento médico continuou sendo o setor com o maior número de participação feminina.
Já do outro lado do muro, na ex-Alemanha Oriental (República Democrática Alemã, RDA), a situação era diferente. O caráter socialista do país se orgulhava de garantir igualdade de oportunidades para mulheres e homens. O Exército, fundado em 1956, permitia participação total da sociedade.
A grande diferença era que os homens eram alistados e as mulheres podiam aderir voluntariamente. As que o fizeram, cumpriam, na maioria, funções administrativas e médicas.
A maioria dos países possui os mesmos desafios do que a Alemanha em termos de representatividade feminina nas Forças Armadas, segundo um relatório do Parlamento britânico de 2021.
Segundo o documento, as mulheres eram somente 11% do contingente regular do Reino Unido. Esse percentual, porém, era um recorde histórico para o país, segundo o Ministério britânico da Defesa, mas ainda ficou aquém da meta de chegar a 15%. O objetivo é chegar a 30% até 2030.
Nos Estados Unidos, onde a luta contra o preconceito de gênero nas Forças Armadas já vem de muito tempo, mais de 17% do pessoa da ativa era composto por mulheres em 2021, segundo o Departamento de Defesa, e a tendência é de aumento.
No início do mês, o presidente Joe Biden indicou a almirante Lisa Franchetti para liderar o grupo do Estado-maior americano. Se for confirmada pelo Congresso, ela se tornará a primeira mulher a entrar no círculo mais alto das Forças Armadas.
Competição no mercado de trabalho
As medidas adotadas pela Bundeswehr para atrair um número maior de mulheres não é somente uma questão de igualdade de oportunidades. Isso tudo se encaixa junto a novas demandas por melhoras generalizadas nas capacidades militares da Alemanha.
O Ministério da Defesa alemão busca se recuperar de décadas de cortes e reduções. O ministro, Boris Pistorius, anunciou o objetivo de acrescentar 20 mil soldados até 2031. Este é um dos elementos da Zeitenwende, ou seja, a mudança nos tempos anunciada por Scholz em reação a invasão russa da Ucrânia. O último reforço das leis de paridade entre os soldados, segundo documentos do governo, está em linha com esses esforços.
Trata-se, porém, de um desafio. Em termos de recrutamento, a Bundeswehr compete com outras instituições do governo e com o setor privado pelo mesmo pool de candidatos.
O envelhecimento populacional gera escassez de profissionais em vários setores daforça de trabalho. Os militares enfrentam “uma tarefa cada vez mais difícil, juntamente com todos outros empregadores”, afirmou à DW uma porta-voz do Ministério da Defesa.
“Ha uma demanda crescente por parte dos empregadores por pessoal qualificado para praticamente todas as áreas do setor de negócios”, observou.
Os militares ainda têm o problema de ter que atrair os mais jovens, o que implica em “preencher as expectativas da chamada geração Z”, o que significa um alto grau de flexibilidade e de liberdade individual no trabalho, explicou.
Essas expectativas costumam bater de frente com a rígida hierarquia militar e estrutura de comando. A adoção de padrões mais rígidos para garantir a igualdade de oportunidades entre os gêneros é parte da estratégia da Bundeswehr para ampliar o recrutamento.
Outro desafio que os militares dividem com o setor privado é de garantir a segurança no local de trabalho, especialmente para as mulheres.
A questão do assédio sexual na Bundeswehr, por exemplo, é algo que ainda perdura em suas fileiras. Entre 2018 e 2020, foram quase 850 casos, segundo a ONG de direitos humanos Terre des Hommes.
Fonte: G1 Por Deutsche Welle
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