
Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Donald Trump, será nesta terça-feira (31) o primeiro integrante da equipe eleitoral do então candidato a ir a julgamento por acusações decorrentes da investigação sobre a ingerência russa na corrida presidencial de 2016 nos Estados Unidos.
A seleção do júri de 12 membros para o julgamento “EUA vs Manafort” começa às 10h locais (11h, em Brasília) diante do juiz de distrito T.S. Ellis, em Alexandria, na Virgínia. O julgamento deve durar cerca de três semanas.
Veterano consultor político republicano, Manafort, de 69 anos, liderou por três meses a equipe de campanha de Trump até ser obrigado a se desligar por sua atividade como lobista da Ucrânia.
Ele enfrenta acusações de fraude bancária e fiscal relacionadas com suas atividades de lobby a favor do antigo governo pró-russo do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovytch. Manafort se declara inocente.
Contra ele pesam acusações por falsas declarações de impostos, por não informar o Serviço Interno de Renda sobre contas bancárias no Chipre e em outros países, com o objetivo de ocultar milhões de dólares em rendimentos por suas atividades em favor de Yanukovytch.
Também é acusado de fraude bancária relacionada com vários empréstimos milionários obtidos de diferentes bancos.
Testemunhas
Os procuradores pretendem apresentar quase 30 testemunhas durante o julgamento, incluindo Richard Gates, ex-sócio de Manafort, que coopera com os acusadores após se declarar culpado de acusações menores em fevereiro.
Cinco testemunhas obtiveram imunidade por parte da Procuradoria para falar contra Manafort.
Investigação sobre a Rússia
Mueller indiciou até o momento 32 pessoas no âmbito da investigação sobre o suposto conluio entre a campanha de Trump e a Rússia para ajudar o magnata nova-iorquino a chegar à Casa Branca.
Trump denuncia frequentemente a investigação de Mueller como uma “caça às bruxas” motivada politicamente e também nega qualquer relação de sua campanha com Moscou para derrotar a então candidata democrata Hillary Clinton.
Enquanto Gates e outros, incluindo o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, declararam-se culpados, Manafort se negou a fazer um acordo com os procuradores.
Trump classificou de “muito injusta” a detenção de Manafort em junho passado.
“Uau, que sentença dura para Paul Manafort, que representou Ronald Reagan, Bob Dole e muitas outras importantes figuras políticas e campanhas”, tuitou Trump, em 15 de junho.
Caso difícil para a defesa
Especialistas legais avaliam que Manafort possa estar esperando ser declarado inocente, ou obter um perdão presidencial.
Jonathan Turley, professor na Faculdade de Direito na George Washington University, considerou que as probabilidades do ex-operador político de sair ileso do julgamento não são boas.
“Este é um caso excepcionalmente difícil para a defesa”, disse Turley à AFP. “Mueller tem apenas de garantir a condenação de uma das acusações para prender Manafort por uma década”, afirmou. “Aos 69, isso deve pesar muito na cabeça dele”, completou.
Turley também disse acreditar que “é pouco provável que os jurados se identifiquem, ou tenham empatia por Paul Manafort”, cujo estilo de vida dispendioso está detalhado nos documentos judiciais. “Estarão vendo um homem que gastou meio milhão de dólares apenas com jardinagem”, comentou.
Estratégia do perdão
Turley considerou que Manafort pode estar apostando “na estratégia do perdão”, pois “permaneceu leal” e “pode pensar que não tem muito a perder se for a julgamento e mantém suas chances de um perdão” presidencial.
Manafort passou o último mês em uma prisão na Alexandria, no subúrbio de Washington, depois que uma juíza federal revogou sua detenção domiciliar e estabeleceu uma fiança de 10 milhões de dólares por suspeita de manipular testemunhas em outro processo em aberto.
Ele deve ir a julgamento em setembro na capital federal por acusações – também apresentadas por Mueller – de conspiração, lavagem de dinheiro e por não se registrar como agente de um governo estrangeiro.
Fonte: G1