Nasci das entranhas de D. Mariinha e com os seus cuidados e olhares me fiz criança, homem, nordestino, comedor de rapadura e estudante do interior. Ela sempre me quis ver doutor e eu saí por aí afora a me agarrar às letras que essa vida me pôs nos caminhos, nos cadernos, livros e bancos escolares.
Até que um dia, compreendi que tinha de deixar D. Mariinha e ir me fazer na capital da Paraíba; um divisor de águas. De um lado, uma mãe que empurrava o filho para o entorno de suas próprias asas; de outro, um coração materno que agonizava a ausência do filho.
A partida era inevitável, até que em 1989, com a cara e sem a coragem, parti como um matuto para João Pessoa, em busca de escolas, conhecimento e um vestibular muito bem acomodado em minha surrada e pouca bagagem.
Aportei na rua Barão da Passagem, no bairro da Torre. Uma ruazinha singela, tranquila, pouco iluminada, onde a lua custava aparecer, bem parecida com as tardes do velho Arraial de Piranhas. Ali, num minúsculo kitnet desabotoei a mochila de livros, sonhos e esperanças. Mobília de todo jovem estudante em busca de seu norte. Um período difícil tanto para mim como para D. Mariinha.
Era um jovem cheio de dificuldades e dificultoso. Com muita insistência e a ajuda do Professor João Trindade, consegui uma bolsa de estudos no Colégio e Curso CA; com as aulas garantidas, era hora de pensar na subsistência na capital. Sem emprego e sem dinheiro suficiente, as refeições eram feitas com a ajuda dos amigos no restaurante universitário da UFPB, de segunda a sexta. Sábados e domingos, era por conta da providência divina e dos anjos que habitavam a terra.
E Deus não me decepcionou. Ali, na ruazinha da Barão da Passagem, fui adotado aos 21 anos de idade por outra mãe, que não me pariu, mas me dispensou o zelo e o cuidado só próprios às verdadeiras mães. D. Detinha, era o nome dela, assim, no diminutivo. Dona de um coração que lhe cabia o mundo.
Não me conhecia, não sabia de onde eu vinha, quem era nem para onde ia. Apenas adotou-me com aquele sorriso largo e um coração maior que ela. Passei então a fazer parte da sua família, ganhei os irmãos Aleudson, Aretuza e Sandrinha e seu Dudu como outro verdadeiro pai. Um homem igualmente simples.
De repente os anos passaram, e assim como cheguei, fui embora, levando comigo toda a gratidão do acolhimento de D. Detinha. Alguns anos depois, já de anel no dedo, fiz-lhe uma visita, era hora de matar saudades, retornar a ruazinha mal iluminada de outrora, reviver momentos, lembranças imorredouras, agradecimentos, reiterar promessas dela, um dia, conhecer D. Mariinha. Um reencontro que o destino preferiu impor uma condição de despedida.
O tempo, senhor da razão, e, às vezes, obstáculo de nossos planos não cedeu aos nosso caprichos e nunca permitiu que elas se conhecessem.
Em 2002 D. Mariinha se foi. Em 2010 foi a vez de D. Detinha, que um dia também me chamou de filho, sem pedir licença. Certamente foram adotar anjos junto de Deus!
Hoje, sem mais nem menos, bateu-me uma saudade indefinível. Uma saudade, sem tamanho, imensa, que já não cabe em mim. Coisas que só se sente com o coração.
Muito Obrigado por tudo mães!
Teófilo Júnior