Quem nunca ouviu de nossos pais quando criança a frase “homem que é homem não chora!”, dita, às vezes, quem sabe, muito mais no intuito de fazer despertar a autoconfiança do que propriamente de reprimir o sentimento da dor. Ocorre, porém, que a assertiva “encorajadora” carrega até hoje um forte conteúdo patriarcal que, de forma quase institucional, se torna tóxica, destrutiva e impositiva diante dos reveses que a vida nos apresenta ao longo dos anos.
A temática estética por este falso padrão masculino reprime o homem de exteriorizar seus sentimentos e dá vazão às suas fraquezas, produzindo muitas vezes danos irrecuperáveis no futuro.
Esse papel social imperialista imposto ao homem parece fazer dele um ser assoberbado de responsabilidades, durezas que ele intimamente não suporta e que o transforma, aos poucos, em refém dos seus sentimentos mais primitivos.
Nascemos chorando. É o choro o sinal de que a criança “nasceu bem”, o termômetro sublime e a ruptura do nascido com a mãe. E ao longo de nossa existência vamos enfrentando outras tantas rupturas, dores e perdas muito mais terríveis que a sentida em nosso nascimento.
Dentre tantas, a dor da perda é algo imensurável. A força do luto alcança dimensão incalculável e foge à nossa simples condição humana e pecadora. O homem não pode se encouraçar numa redoma de contidas emoções.
Sei o quanto isso nos corrói o corpo e a alma. Já tive as minhas dores, as minhas perdas.
Relendo João, o evangelista, pude verificar o quão forte e sublime é esse sentimento que se materializa em lágrimas e em “adeus”.
No menor versículo do Evangelho de João (capítulo 11, versículo 35), onde ele relata a morte de Lázaro, amigo de Cristo, o evangelista mensura esse sentimento. Ele é taxativo: “Jesus chorou”.
Parece-nos razoável aduzir que a morte física é algo que transcende as nossas forças, as convenções sociais e põe a peso às nossas emoções. Chorar é o humano visível que se pressupõe a metafísica e a condição de gênero.
A morte, é o ato mais solitário que existe, para homens e mulheres. Por mais que estejamos acompanhados, sempre estaremos só. Partiremos só. O que fica em nossa dor é a esperança da vida eterna e a certeza de que chorar não é um ato de fraqueza. É algo que até Jesus, que se fez homem, experimentou.
Teófilo Júnior