“Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política.
É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.”
(Nelson Rodrigues)
Revirando o lixão da política nacional encontrei alguns descartes que me chamaram a atenção. O que me fez revirar, ainda mais, os destroços e encontrar cada vez mais abjetos inusitados. De repente talvez até permanecesse mais no insalubre ambiente, não fosse a obrigação civil de voltar ao convívio social para fazer uma nova limpeza. Faltam poucos dias para o coletor do lixo passar e a casa está imunda. Vamos à faxina?
De todos os pleitos eleitorais por mim vividos esse é o mais fétido. A conduta dos eleitores é a mais preocupante possível. Não vislumbramos nenhum projeto de soerguimento da economia nacional, nem proposta de pacto reconciliatório dos brasileiros. Os discursos vão do flato à pólvora em um riscar de fósforo. A população assiste ao desnudar de uma geração sem motivos para votar. Mas ainda não é o fim. A lei de Murphy nos afirma que “se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.” As eleições deste ano poderão confirma o dito.
A revitalização da política econômica do país está de uma vez por todas entregue ao mercado financeiro. Os bancos continuam a sugar vampirescamente a população economicamente ativa e a tripudiar desumanamente no largo dos desempregados. Se algum candidato tiver propostas de resgate da capacidade financeira do brasileiro que se apresente.
No lixão político encontrei ainda a dignidade do brasileiro. Um dos dejetos mais tristes de revirar. Esta estava enlameada, amassada e rasgada. Mas tive o cuidado de certificar-me de que não estava contaminada de algum mal terrível e incurável antes de movimentá-la com os pés. Para meu desgosto alguns escritos naquela carta de vida ainda eram legíveis e lá decifrei outra frase de Nelson Rodrigues que berrava: o brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade. Essa responsabilidade bate a porta e nos convida a faxina em 7 de outubro.
Após muito revolver os destroços encontrei outro item que não deveria ter sido jogado ao lixo: a comiseração. O brasileiro atirou fora o seu sentimento de piedade pelo país e pelos seus compatriotas. Não mais nos compadecemos da nossa miséria social. Deixamo-nos envolver pelo ódio das paixões políticas e esquecemo-nos que, desse lado do mundo, estamos a mercê do nosso parco senso de compromisso e responsabilidade social.
Por fim, os últimos informes: o carro do lixo vai passar e mais uma vez corremos o risco de atirar fora votos de suma importância para o salvamento da nossa nação. Estamos sujeitos a nos desfazer do pouco que resta da nossa dignidade eleitoral reelegendo candidatos, estes sim, que já deveríamos ter jogado no monturo.