Em Livramento, Paraíba a semente da poesia brotou. Regada nas plagas do Cariri, aos onze anos de idade, uma dor eterna, a derradeira viagem do pai. O menino, então, se fez homem, viveu e lutou na agricultura, sob o sol das terras paraibanas. Cuidou da mãe e dos irmãos e aos 19 anos trocou de profissão e se fez operário no Sertão da Bahia.
Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso sentiram de perto o labor do Caririense. Ano a ano aquele belo cenário, adicionado aos sons da correnteza das águas, do barulho das turbinas gerando energia e do duro trabalho a lavar seu rosto de suor foram alimentando a semente poética daquele que ainda tinha tempo para ser retratista.
A vida de ribeirinho do grande rio São Francisco, o som da passarada acordando o sertão também foram lapidando a poesia que habitava o âmago do menino de Livramento. E o tempo caminhou, dias e noites, noites e dias. Estiagens e invernos enfrentados. A saudade falando bem alto no peito, apertando seu viver como uma súplica, reclamando por regresso às origens. E assim, o menino poesia cedeu aos ventos da intuição. Deixou a Bahia, as hidrelétricas, o São Francisco, suas lendas e belezas. O destino o levou ao Pernambuco. Ao Pajeu, berço maior da poesia.
Era o ano de 1979, Sítio Grossos, São José do Egito, o município. Ali atraído pelo som de uma cantoria, sob o céu estrelado e de encantadora Lua, assistiu e encantou-se com os versos do repente desafiador da dupla: Sebastião da Silva e Moacir Laurentino. Ali conheceu Zé de Cazuza, mestre da arte da poesia das terras do Pajeu. Enfim, acendeu-se a luz e a poesia aflorou. Sim, como uma barragem que se rompe, de seu coração jorrou versos e versos, tornando-se repentista inspirado que dobrava os desafios.
Logo se fez aclamado e requisitado. Em Patos, Paraíba, fixou residência. E ali nas Rádios Panati e Espinharas. Divulgou e Popularizou o repente naquela região. Realizou e participou de congressos, festivais e eventos, consagrando-se como mestre do improviso de infinitas glossas. Membro da realeza do repente, o destino o atraiu de vez para o Pajeu. Tuparetama sua nova morada. Influenciado pela cultura de raiz, pelo cangaço e seu rei Lampião, pela Asa Branca e seu Rei Gonzagão, encaminhando-se pelas veredas do forró e o vanerão improvisado.
Dividiu os estúdios e os pés de parede das comemorações familiares com o amigo/irmão Delmiro Barros. Valdir Teles cantou o amor e o sertão com suas infinitas belezas e mistérios. Alias, foi cantando versos de amor que fez brotar no jardim da vida, a sua flor maior, Mariana Teles.
Eclético e ágil em seu raciocínio, era considerado um insigne protagonista do repente, comparado a Louro do Pajeu e João Paraibano, com quem fez dupla por muito tempo, a Ave Teles se destacava com seu canto quando a passarada do repente encantava as auroras sertanejas.
Em pleno ápice da poesia o canto encantou-se, o ode foi traído pelo coração que tanto lhe inspirou e o som do repente, de repente silenciou. Mas poetas são eternos. Seus versos, seus poemas e suas declamações jamais serão saudades. Valdir era e será sempre essência da esperança e como declamou Pinto de Monteiro: “Esta palavra saudade conheço desde de criança. Saudade de amor ausente, não é saudade, é lembrança. Saudade só é saudade quando morre a esperança”.
Viva Valdir Teles!
Liberdade PB