
A, deflagrada na última quarta-feira pelo Núcleo de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil, traz à tona movimentações suspeitas que podem confirmar o vínculo entre a Cooperativa de Árbitros de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Coopaferj) e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj). Diversos saques, somando quase R$ 500 mil, foram efetuados este ano por Messias José Pereira, .
Ele é acusado no relatório policial de ser “testa de ferro” de Jorge Rabello, ex-chefe da comissão de arbitragem e do Sindicato dos Árbitros Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (Saperj).
– Não havia um motivo para ele efetuar saques da conta da Federação. Nós acreditamos que o Messias efetuava os saques da Federação a mando do Jorge Rabello.
A reportagem do Esporte Espetacular teve acesso ao relatório do antigo Coaf, atual Unidade de Inteligência Financeira. Ele mostra que Messias fez quatro saques em espécie, todos com valores altos que, somados, chegam a quase R$ 300 mil. A Ferj alega que os saques foram para despesas de arbitragem. Em nota oficial, a entidade revela ainda outras retiradas, um total de sete cheques, totalizando R$ 496 mil
Esses saques foram efetuados antes de Rabello ter sido supostamente afastado da comissão de arbitragem. Em abril deste ano, após denúncias feitas pelo Esporte Espetacular de desvio de recursos e uso de cartões corporativos para pagamento de gastos pessoais, a Ferj anunciou uma reestruturação na área de arbitragem.
Foi criado um departamento, sob a direção de Luiz Mairovitch, com José Carlos Santiago à frente da comissão de arbitragem e Rabello limitado a coordenar a área de desenvolvimento e planejamento. Santiago era o vice de Rabello na comissão de arbitragem.
Sauvei Lai, promotor do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), acredita que Rabello, apesar de oficialmente afastado, ainda dava as cartas na comissão de arbitragem.
Após o início da Operação Cartão Vermelho, a Ferj divulgou um documento no qual Mairovitch acata um pedido de licença de Rabello até que os fatos fossem esclarecidos.
Horas depois, a Ferj publicou um novo documento em seu site comunicando a exoneração definitiva de Rabello.
Messias e Rabello, além de Sérgio Mantovani, ex-contador da Coopaferj, foram abordados por agentes em seus respectivos endereços na manhã de quarta-feira. Documentos, equipamentos eletrônicos e celulares foram apreendidos e o sigilo fiscal e bancário dos três foi quebrado.
A polícia aponta em seu relatório suspeita de evolução patrimonial incompatível com os rendimentos. Rabello, contudo, nega qualquer irregularidade.
– Eu continuo negando e sempre vou negar. Com a quebra dos sigilos a coisa vai ficar bem clara – disse, logo ao ser liberado sob fiança de 10 salários mínimos da delegacia onde ficou detido por algumas horas por posse ilegal de arma de fogo.
Os policiais encontraram uma sala vazia ao verificar a sede da Coopaferj em Saquarema na manhã de quarta-feira. O mesmo endereço é usado por mais de duas mil empresas, algumas delas fantasmas e investigadas pela Operação Lava Jato. Na visão da polícia, a Coopaferj foi criada para tomar dinheiro dos árbitros.
– Os árbitros estavam pagando duas vezes e aqueles que não pagavam à cooperativa não eram escalados para partidas de futebol. É muito provável que ela tenha sido criada para se apropriar de forma indevida desses valores pagos por árbitros do estado.
Questionado sobre a sede, Rabello alegou ao sair da delegacia que, na época, recebeu orientação para que a empresa fosse registrada em Saquarema por conta da baixa carga tributária, mas não entrou em detalhes. Ele nega qualquer desvio de recurso do sindicato e também que tivesse o comando na Coopaferj.
Mantovani e Messias foram procurados por telefone e pessoalmente, respectivamente, na quarta-feira, mas não quiseram dar declarações.
Confira abaixo a íntegra da nota oficial enviada pela Ferj à TV Globo:
“À TV GLOBO,
Nota emitida pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro para a reportagem sobre o Sindicato dos Árbitros e Cooperativa dos Árbitros. A FERJ entende que, dentro do princípio básico do jornalismo e dos editoriais das Organizações Globo – publicado em seus sítios – é necessária a publicação na íntegra com o claro objetivo de esclarecer dúvidas, respeitar o público e não macular nomes ou a instituição. Ciente da compreensão seguem as respostas.
1) A Ferj diz que em Abril afastou o investigado Jorge Rabello da função de presidente da comissão de arbitragem. Mas a Polícia Civil e o Ministério público acreditam que Jorge Rabello ainda ocupa o cargo. Material apreendido na sala da presidência da COAF revelam que Rabello trabalha lá. O que a Ferj tem a dizer sobre a suspeita dos investigadores?
FERJ: Completamente equivocada, mas compreensível se considerarmos a possibilidade do não conhecimento do estatuto da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e da estrutura da arbitragem.
Até março de 2019, toda arbitragem estava inserida num único órgão gestor que era a Comissão de Arbitragem de Futebol (COAF) sob a responsabilidade e comando do Presidente da Comissão, no caso o Jorge Rabello.
Na Assembleia Geral de abril de 2019 foi aprovada, por unanimidade, a reestruturação da arbitragem que passou a ser organizada da seguinte forma:
1- EAFERJ – Escola de Arbitragem da FERJ, com a função específica da formação dos árbitros e assistentes e tendo como diretor Carlos Elias Pimentel.
2- Departamento de Árbitros (DA) sob a responsabilidade de um Diretor, Luiz Mairovitch, abrangendo e constituído dos seguintes segmentos, sem nenhuma subordinação ou ascendência entre eles:
2.1- Comissão Operacional da Arbitragem de Futebol (COAF): com competência e função específica de designar as escalas de toda a equipe de trabalho de cada partida, das diversas competições e categorias, e realizar as audiências públicas exigidas para tal, tendo como presidente José Carlos Santiago.
2.2- Comissão Especial de Planejamento, Desempenho Técnico e Análise de Desempenho (CEPDA): com funções específicas autoexplicativas, tendo como presidente Jorge Rabello.
2.3- Comissão de Ensino.
2.4- Secretaria.
3- Corregedoria Geral da Arbitragem (CGA): sob o comando e superintendência do advogado Carlos Oliveira de Abreu, conforme Resolução de Presidência publicada dia 19 do corrente mês.
4- Comissão de Ética a ser constituída.
Observação:
Todo o departamento e respectivos segmentos estão instalados no segundo andar da sede da FERJ, em suas respectivas salas.
Toda documentação inerente e necessária ao exercício das funções das respectivas comissões e segmentos estão disponíveis para consulta e utilização, sem qualquer restrição.
Todos os membros do departamento de árbitros, indistintamente, desempenham suas funções parcial ou integralmente nas dependências do departamento.
Inexiste qualquer dúvida que o Sr. Jorge Rabello compunha e fazia parte da gestão das atividades inerentes à arbitragem, condição exercida e desempenhada tecnicamente com proficiência há mais de 10 anos, até o presente momento em que optou se afastar de qualquer cargo ou função, fato consolidado no dia 18, conforme Resolução da Presidência número 023/19, publicada na mesma data.
Não existe restrição de acesso a qualquer dependência a nenhum membro do departamento.
Entretanto o Sr. Jorge Rabello não ocupava a sala destinada a atual Comissão Operacional de Árbitros de Futebol (cujas funções e competências já foram anteriormente esclarecidas) desde a sua saída desta comissão, por decisão da presidência, conforme RDP número 07/19, mas ocupava e trabalhava na sala destinada à comissão de planejamento, cuja situação faz parte de uma das salas do mesmo espaço físico de um andar onde estão situadas as demais dependências do Departamento de Árbitros (DA), fato do conhecimento e comprovação por todos os 340 profissionais que compõem a relação de árbitros e assistentes, bem como por qualquer dos nove instrutores e demais membros dos diferentes segmentos da estrutura do DA.