Humberto Eco costumava afirmar que a “internet deu voz aos imbecis.” Para o filólogo e escritor, as redes sociais oportunizaram aos “idiotas da aldeia” a estenderem suas “verdades” muito mais além das cercas da mesa de bar e de suas taças de vinhos.
De fato, hoje a coletividade virtual é exposta e até relativizada, via de regra, por modelos e exposições minúsculas de altercações prolixas e sem profundidade, numa dialética pobre e factual, incapaz de seduzir o leitor a passar a página do próximo capítulo ou da próxima tela.
Além da exposição de um pensamento temporal, limitado, restrito, muito superficial e centrado unicamente em convicções quase sempre sem qualquer observância ou balizamento com o outro norte de contraponto, o pensamento midiático vem se isolando em ilhas, compartilhado, preferencialmente, de forma seletiva sob a ótica apenas da comunhão de posições equivalentes, se distanciando de outras argumentações, ora por uma opção da própria seletividade, ora por motivações simplórias, incapazes de alicerçar um discurso substancioso e contra-argumentativo, construído apenas dos alicerces do seu próprio mundo e, muitas vezes, de interesses outros.
Essa demasiada exposição de “filósofos de mesa de bar” que trocaram as ágoras pelas modernas e velozes redes sociais, hodiernamente, vem criando a até fomentando a construção de elementos separatistas e antipartidaristas, onde, não raramente, paixões superam a edificação lógica do interesse da pólis (πόλις) e do que se subtrai como verdade. Isso vem fazendo surgir figuras e conceituações no mínimo inusitadas e até engraçadas, a exemplo dos “petralhas” e dos “coxinhas”. Aqueles se alinham a formação de uma verdade e de um raciocínio comum entre eles; estes, de igual forma, compartilham entre si um conhecimento tido como verdade rasa, divergente do primeiro, igualmente desprovido de razões mais sólidas de convencimento. E a coisa fica por aí, flutuando em águas rasas.
O que ocorre com tudo isso é que nesse universo da internet tudo nos parece muito razoável e girando em torno de si mesmo. Carece do aprofundamento de razões dialéticas, do confronto de construções, sejam elas políticas ou sociais.
Presumo, atento a própria improfundidade sugerida a que estamos submetidos, que retornamos todos aos grilhões contemporâneos da nova e conceitual caverna que criamos.
Teófilo Júnior