A aculturação de uma geração e a política midiática musical desse país, vem, a passos largos, promovendo explícita campanha de violência contra a mulher. Em alguns casos, com a condescendência de parte da classe feminina.
Não é preciso discorrer muito sobre o tema para perceber que essa “campanha” de violência e banalização da mulher, hodiernamente, ganha contornos e ações em vários setores da sociedade sem grande oposição pública. O fato pode ser visto na indústria fonográfica.
Essa indústria consegue invadir os nossos lares através de “duvidosas” composições musicais, vinculadas como sucessos comerciais, sem contraponto, por emissoras de rádio de todo o país.
Numa breve análise comparativa, podemos perceber que aquela imagem da outrora mulher enamorada, cultuada de singular beleza e inteligência, vem perdendo força para a figura de uma mulher objeto que beira a coisificação vulgar de sua imagem, gerando, obviamente, um leque de violência de ordem subjetiva incalculável.
Quer um exemplo disso? Veja a letra da música “Deixa a cachorra passar”, do Bonde do Tigrão:
“Olha a cachorra!
Deixa a cachorra passar
Ela quer rebolar
Deixa a cachorra passar
Ela quer provocar
Mexe o bumbum, mexe o bumbum
(…)
Não é tchutchuca e nem galinha
É uma cachorra”
E segue a composição…
O que nos causa estranheza é que violência como essa consegue ser vinculada a condição da mulher sem muita dificuldade, tornado-se “sucesso” musical e financeiro inquestionável.
O grau de violência contra a mulher se torna mais imensurável quando nos reportamos a composições musicais não muito pretéritas. Destacamos aqui apenas uma das composições de Nelson Gonçalves (A Deusa da minha rua) que, a partir do título, se opõe completamente a essa campanha desqualificativa.
Diz o boêmio:
“A Deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar
(…)”
Talvez haja quem conclua que estou ultrapassado. Um cinquentão preso ao seu tempo. Certamente. Imorredouramente acorrentado a tudo quanto é forte e belo, inclusive as mulheres!
Teófilo Júnior
