Por Jose Tavares de Araújo Neto
As eleições presidenciais, ocorridas em março de 1930, marca a ruptura da política café-com-leite, um acordo entre São Paulo e Minas Gerais que visava a alternância da ocupação da Presidência da República pelos dois Estados. A disputa se deu entre a chapa situacionista composta por Júlio Prestes, Presidente de São Paulo, que tinha como vice o Presidente da Bahia Vital Soares. Concorria pela oposição, com o apoio apenas dos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, o Presidente do Rio Grande do Sul Getúlio Dorneles Varga, tendo como seu vice João Pessoa, Presidente da Paraíba. Sob acusação de fraudes, a vitória da chapa encabeçada por Júlio Prestes foi recebida com descrédito pelos candidatos derrotados e por boa parte da opinião pública.
Em 26 de julho de 1930, o Presidente João Pessoa, candidato a vice derrotado na chapa de Getúlio Vargas, é assassinato em Recife. Muito embora este crime tenha sido por questões passionais e não políticas, o fato recrudesceu o movimento conspiratório que articulava a destituição do Presidente Washington Luís e o impedimento da posse do Presidente eleito Júlio Prestes, principalmente devida a adesão de importantes lideranças do Exército Brasileiro.
Em 03 de outubro, a conspiração desemboca em Minas Gerais e Rio Grande do Sul e, sob a articulação de José Américo de Almeida, que assume a Interventoria no Estado da Paraíba, se alastra pelos demais Estados do Nordeste. Até que em 24 de outubro, o Presidente Washington Luís é finalmente deposto, assumindo o Governo uma Junta Provisória de Governo.
Dois dias depois de assumir a Interventoria da Paraíba, ou seja, no dia 05 de outubro, José Américo nomeia para o cargo de Prefeito de Pombal o médico Janduhy Carneiro, filho de Joca Carneiro, proprietário do Jornal Correio da Manhã, e irmão o jornalista e advogado Rui Carneiro, quebrando assim a hegemonia de 15 anos de mandonismo do médico José Ferreira de Queiroga, ligado politicamente a ex-presidente Joao Suassuna e ao Coronel José Pereira.
Face a pressão das forças revolucionárias vindas do Sul e das manifestações populares, a Junta Provisória é obrigada a entregar o Governo do País a Getúlio Vargas, que é empossado na Presidência da República em 03 novembro de 1930. Jose Américo, aliado de primeira hora de Getúlio, é mantido como Interventor da Paraíba. Porém, após a recusa de Juarez Távora, José Américo é convidado por Getúlio Vargas para ocupar o cargo de Ministro da Viação e Obras Públicas, repassando a Interventoria da Paraíba para Antenor Navarro. José Américo segue para o Rio de Janeiro, capital Federal, levando o pombalense Rui Carneiro, que assume a chefia do seu Gabinete Ministerial.
A Revolução Constitucionalista de 1932, que tinha como objetivo derrubar o Governo Vargas e a convocação de uma Constituinte, obteve êxito apenas no seu segundo intento. Assim, em 1934, foi promulgada uma nova Constituição, que determinou realização de eleições diretas em todos os níveis a partir do no ano subsequente, a começar pela eleições municipais em 1935, que contemplava escolhas para preenchimento dos cargos de vereadores, prefeitos e vice-prefeitos.
Chegou 1935, ano das eleições municipais. O prefeito de Pombal, Janduhy Carneiro, encontrava-se em uma posição relativamente confortável, pois contava com o apoio popular, mas tinha contra si e o seu governo a insatisfação da maioria dos coronéis, grandes latifundiários, que sob o comando do Dr. José Ferreira de Queiroga, que, além de terem o controle manipulatório dos cartórios, faziam sobrepor o voto de cabresto, seja através da força do dinheiro, seja por intermédio do fuzil.
José Ferreira Queiroga foi, juntamente com José Pereira de Princesa, os dois mais poderosos coronéis do sertão paraibano. Era filho do Coronel Benedito Queiroga, proprietário da Fazenda Várzea do Saco, sendo um dos importantes coiteiro do cangaceiro Antonio Silvino. Por ser graduado em medicina, José Ferreira Queiroga em Pombal era chamado de Doutor Queiroga, já no Estado era mais conhecido por Coronel José Queiroga. Era ele um dos jotas da histórica CHAPA DOS TRÊS JOTAS, que, em 1927, foi articulada pelo então Presidente da Paraiba Joao Suassuna para sua sucessão. A CHAPA DOS 3 JOTAS, considerada o pivô da Guerra de Princesa, era composta por Júlio Lyra (Presidente) Chefe de Polícia do Governo João Suassuna, e pelos coronéis José Pereira de Princesa (1º Vice-presidente) e José Queiroga de Pombal (2º Vice-presidente). A chapa foi rechaçada pelo poderosos ex-presidente Epitácio Pessoa, que sacou do bolso do colete o nome do seu sobrinho Joao Pessoa na condição de presidente, em substituição a Júlio Lyra.
A gestão do Prefeito Janduhy Carneiro (1930/1935) trouxe muitas conquistas e inestimáveis avanços de ordem socioeconômico. Na seca de 1931/32, a cidade de Pombal recebeu constantes visitas do Governador do Estado e do Ministro de Viação e Obras, de quem seu irmão Rui era Chefe de Gabinete. Levas de retirantes, provindas das mais variados localidades, se dirigiam à Pombal em busca de trabalho, provocando a necessidade de se fazer um acampamento nos arredores da cidade, onde, após triagens, os flagelados da seca eram distribuídos nas frentes de trabalhos, implementadas através das diversificadas ações emergenciais criadas com o propósito de ocupar esta mão-de-obra ociosa, sedenta e faminta.
Para tanto, o Ministro José Américo destinou recursos para construção de um grande açude no povoado de Condado. O interventor Antenor Navarro reservou boa parte da verba de emergência que havia recebido do Governo Federal, a qual foi investida em importantes obras estruturai, tais como: recuperação e abertura de novas estradas de rodagens e carroçáveis, ampliação do cemitério público da cidade e do distrito de Malta, cobertura do mercado público, fabricação de telhas e tijolos e a construção do Grupo Escolar Estadual Joao da Mata, primeira escola pública Estadual do município. Também há de se registrar a chegada da estrada ferroviária, com transporte de cargas e de passageiros, bem como a instalação da empresa multinacional Brasil Oiticica S.A, uma importante fábrica de óleo, que causou grande impacto positivo na geração de empregos e rendas em toda região polarizada por Pombal.
E neste contexto, a primeira eleição direta para escolha de Prefeito de Pombal aconteceu em 1935. A disputa se deu entre os getulistas, representados pelo Partido Progressista, que tinha como candidato o Prefeito Janduhy Carneiro, contra o ex-prefeito, no biênio 1927/1928, Francisco Sá Cavalcante, do Partido Autonomista, que, sob o controle do Dr. Jose Ferreira de Queiroga, congregava os velhos correligionários do Coronel Jose Pereira de Princesa.
E assim, no ano de 1935, aconteceu a primeira eleição direta para prefeito do município de Pombal, sendo esta umas das campanhas políticas mais violentas da nossa história, havendo muitas desavenças entre os apoiadores dos candidatos, além de agressões verbais e físicas, foi registrado até assassinatos. Sá Cavalcante, candidato de Dr. Queiroga, foi o grande vitorioso, entrando para a história como o primeiro Prefeito de Pombal eleito diretamente pelo povo.
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