A acusação e a defesa do maior traficante de drogas já extraditado e julgado nos Estados Unidos, Chapo Guzman, devem apresentar argumentos nesta terça-feira (13) em um tribunal do Brooklyn, em Nova York. O julgamento, que poderá demorar meses, é considerado um marco na longa guerra de Washington contra o tráfico de drogas.
A promotoria deverá pedir prisão perpétuapara para o temido chefe do tráfico mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán, de 61 anos, considerado o maior traficante do mundo depois da morte do colombiano Pablo Escobar.
“El Chapo” é acusado de liderar o maior cartel de drogas do planeta e de enviar cerca de 155 toneladas de cocaína aos Estados Unidos durante 25 anos. O júri deve decidir se “El Chapo” é culpado ou não de 11 crimes de tráfico e distribuição de drogas, posse de armas e lavagem de dinheiro.
Com aparelhos e cães treinados para detectar gás e explosivos, dezenas de policiais reforçam a vigilância no tribunal do Brooklyn.
Seleção dos jurados
Mais de mil pessoas receberam em casa um questionário com mais de 120 perguntas e 40 foram pré-selecionadas para serem jurados.
Na semana passada, após tensos interrogatórios, os 12 jurados titulares e seis substitutos foram selecionados. Pelo menos cinco pessoas foram descartadas por temerem por suas vidas, além de uma delas sofrer um ataque de pânico que a faz ser levada para o hospital.
Para preservar sua segurança, os jurados serão escoltados todos os dias por agentes armados até o tribunal e seus nomes serão mantidos anônimos.
Sigilo
“Este é um caso emblemático para o governo, não apenas por causa dos supostos crimes do acusado, mas porque é um exemplo a dar na guerra dos Estados Unidos contra o narcotráfico internacional”, declarou René Sotorrio, advogado de Miami que defende os irmãos Rivera Maradiaga, ex-líderes do cartel hondurenho Los Cachiros.
Os clientes de Sotorrio poderão testemunhar contra Chapo. “Haveria dezenas e dezenas de indivíduos que de alguma forma fizeram negócios com a organização Chapo e se ofereceram como testemunhas contra ele”, afirma o advogado.
As testemunhas que estão na prisão ou no programa de proteção a testemunhas podem conseguir uma redução significativa na sentença, mas a promotoria afirma que eles e suas famílias estão em risco de vida.
Milhares de provas
Em sua cela em Manhattan, El Chapo passou 22 meses isolado 23 horas por dia. Os únicos que podem visitá-lo são seus advogados e suas filhas gêmeas de sete anos, mas apenas através de uma parede de vidro.
Com o cabelo raspado, sem bigode e usando um traje de presidiário azul, “El Chapo” perdeu muito de sua aura de implacável chefe do tráfico, e aguarda seu julgamento “tão esperançoso quanto pode estar”, segundo seu advogado Jeffrey Lichtman.
Extraditado do México em janeiro de 2017, El Chapo é acusado de liderar entre 1989 e 2014 o impiedoso cartel de Sinaloa, o qual fundou e tornou a “maior organização de tráfico de drogas do mundo”, segundo a acusação.
A Promotoria, que prepara o caso há vários anos, assegura que El Chapo enviou aos Estados Unidos ao menos 154.626 kg de cocaína, além de várias toneladas de outras drogas, embolsando 14 bilhões de dólares.
El Chapo se declara inocente, mas o governo apresentou muitas evidências contra ele, tantas que a defesa diz não ter tempo de revisar: mais de 300 mil páginas de documentos e ao menos 117 mil gravações de áudio, além de centenas de fotos e vídeos.
A extradição há quase dois anos e seu julgamento são um grande triunfo para o governo americano, que nunca conseguiu extraditar e julgar Pablo Escobar, ex-chefe do cartel de Medellín que morreu em uma operação policial em 1993.
Já o cartel de Sinaloa, fundado em 1989 por El Chapo, continua sendo muito poderoso.
E, enquanto isso, a violência do tráfico não dá trégua no México, que teve um recorde de quase 29.000 homicídios em 2017. Nos Estados Unidos, o consumo de opiáceos matou em 2016 uma média de 174 pessoas por dia.
Negócio aos 15 anos
Joaquín Archivaldo Guzmán Loera nasceu em 4 de abril de 1957 em uma família humilde em La Tuna, pequeno povoado rural de Badiraguato, no pobre e violento estado de Sinaloa. O apelido “El Chapo” significa “o baixinho”, em português.
Em um encontro clandestino em outubro de 2015, contou ao ator americano Sean Penn que, quando criança, vendia laranjas, refrigerantes e doces para ajudar sua família, que era “muito pobre”.
O ator e ativista Sean Penn posa em cumprimento com o traficante mexicano Joaquin ‘El Chapo’ Guzman, em foto não datada divulgada pela revista ‘Rolling Stone’ no domingo (10). A revista publicou uma entrevista que Penn fez com o contrabandista — Foto: Reuters/Rolling Stone O ator e ativista Sean Penn posa em cumprimento com o traficante mexicano Joaquin ‘El Chapo’ Guzman, em foto não datada divulgada pela revista ‘Rolling Stone’ no domingo (10). A revista publicou uma entrevista que Penn fez com o contrabandista.
O ator e ativista Sean Penn posa em cumprimento com o traficante mexicano Joaquin ‘El Chapo’ Guzman, em foto não datada divulgada pela revista ‘Rolling Stone’ no domingo (10). A revista publicou uma entrevista que Penn fez com o contrabandista — Foto: Reuters/Rolling Stone
Mas devido à “falta de oportunidades”, aos 15 anos já cultivava e vendia maconha e papoula, um negócio que florescia em seu povoado agrícola.
O maior cartel do mundo
Adolescente, foi recrutado pelo chefe do cartel de Guadalajara, Miguel Angel Félix Gallardo, e quando este foi preso em 1989, fundou com três sócios o cartel de Sinaloa, que cresceu de forma metórica até se tornar o maior do mundo.
Com o passar do tempo, se tornou o traficante de drogas mais procurado do mundo, acusado de enviar entorpecentes da América Latina para Estados Unidos, Europa e Ásia.
Inclusive a revista “Forbes” reconheceu o seu sucesso e, até 2013, o colocou por vários anos em sua famosa lista de bilionários, estimando a sua fortuna em um bilhão de dólares.
Embora em seu estado de Sinaloa tenha criado uma imagem de Robin Hood, fazendo muitas obras sociais para a população local, El Chapo era considerado impiedoso com rivais e traidores.
Prisões e fugas
Mas a partir de 1993 a situação começou a se complicar e, em junho daquele ano, foi detido pela primeira vez, na Guatemala, e levado para uma prisão mexicana.
Mas fugiu oito anos depois, em 2001, dentro de um carrinho de roupa suja.
Voltou a ser preso em fevereiro de 2014, quando estava com sua esposa e filhas em Mazatlán, Sinaloa. E, novamente, fugiu 14 meses depois por um túnel de 1,5 km cavado sob o ralo do chuveiro de sua cela.
As autoridades dizem que sua queda pela atriz mexicana Kate del Castillo, com quem trocou mensagens sugestivas e que conseguiu o encontro entre El Chapo e Penn, levou a sua localização e prisão final em janeiro de 2016, até a sua extradição aos Estados Unidos um ano depois.
Fonte: G1