A demissão do ministro-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, é dada como certa por integrantes do governo, mesmo depois da mobilização de outros ministro e aliados em defesa dele. A crise, que começou com suspeitas em torno do financiamento eleitoral do PSL, passa pela influência dos filhos do presidente no governo.
O dia nem tinha amanhecido quando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência desabafou em uma rede social: “Saímos de qualquer lugar com a cabeça erguida ao carregar no coração a lealdade”. O texto diz ainda: “O desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”.
A mensagem é atribuída ao escritor Edgard Abbehusen. Bebianno não citou o nome do presidente Jair Bolsonaro na publicação nem fez qualquer outro comentário.
De manhã, em entrevista à Folha de S.Paulo, falou que deve mesmo sair do governo. De acordo com o jornal, Bebianno disse que a tendência é essa: a exoneração do cargo. Mas, por enquanto, ele está esperando. Quer ver isso por escrito. Ele disse: “Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado”.
Bebianno também disse que recusou um cargo na diretoria de Itaipu para deixar o Planalto: “Não foi esse meu emprego, meu projeto era eleger a pessoa que me inspirava confiança e eu achava que ia mudar os rumos do Brasil para melhor”.
Ele foi questionado se há tratamento diferenciado por parte de Bolsonaro para o ministro do Turismo. Marcelo Álvaro Antônio, também do PSL, é suspeito de direcionar verba pública de campanha para empresas ligadas a assessores que trabalham no gabinete dele. “Não sei, não sou eu que dispenso tratamento. Eu estou recebendo tratamento com perplexidade. Quem dispensa o tratamento é que tem que explicar seus motivos”, respondeu Bebianno.
A crise que tomou conta do governo nos últimos dias começou com as denúncias de candidatos laranjas no PSL, que era presidido por Bebianno durante a campanha eleitoral, e foi ampliada por influência de um dos filhos do presidente no governo. Bebianno foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e depois pelo próprio presidente.
Em nota, Bebianno respondeu a acusação de uso de laranjas e disse que “todos os repasses para os candidatos das eleições proporcionais e aos governos dos estados são realizados pela Executiva Nacional por conta e ordem dos diretórios estaduais” e que “compete a cada um dos candidatos a prestação de contas de sua própria campanha, cabendo-lhes também a responsabilidade pelos atos praticados”.
Na sexta-feira (15), Bolsonaro e Bebianno se encontraram pela primeira vez depois do episódio. Apesar dos apelos de ministros para que a crise fosse encerrada, o clima continuou tenso, mesmo depois de um encontro reservado entre os dois. Bolsonaro apontou Bebianno como o responsável por vazamentos de informações do governo para a imprensa.
Interlocutores do Planalto acham a situação insustentável e dão como certa a demissão do ministro a qualquer momento. Até integrantes do governo que tentavam manter Bebianno no cargo já admitem que a saída é irreversível e deve mesmo ser confirmada na segunda-feira (18).
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, um dos que mais defenderam Bebianno, esteve no Alvorada neste sábado (16), conversou com o presidente Jair Bolsonaro, mas saiu sem falar com a imprensa.
Em entrevista a repórter Andréia Sadi, o vice-presidente Hamilton Mourão – que atuou para manter o ministro no cargo – disse acreditar que Bolsonaro vai resolver a questão da influência dos filhos no governo. “Eu acho que se o presidente quisesse o Carlos no Palácio do Planalto, ele teria nomeado ele lá. Acho que o presidente está dando um tempo para organizar isso aí”, disse Mourão.
Na sexta-feira, Carlos Bolsonaro retomou o posto de vereador no Rio e, apesar das críticas que a família do presidente vem fazendo a Mourão, fez um aceno na direção do vice-presidente. Carlos Bolsonaro publicou em uma rede social que apoia uma homenagem da Câmara de Vereadores do Rio ao vice-presidente.
Fonte: G1