
Omar Farouq tem apenas 13 anos e deve passar toda a sua juventude em uma prisão na Nigéria por ter brigado com um amigo no estado de Kano e “insultado” Alá. Não se sabe mais detalhes sobre o incidente que teria ocorrido no verão passado.
Por acaso através de um conhecido, o diretor do Museu e Memorial de Auschwitz, Piotr Cywiński, soube do destino do garoto. Pouco tempo depois, quando uma funcionária do memorial, que pesquisa sobre as crianças do antigo campo de concentração alemão, foi premiada, ele teve uma ideia: Cywiński lembrou-se da visita do presidente nigeriano a Auschwitz há alguns anos e decidiu lhe enviar uma carta.
Nela, ele pediu o perdão da criança e não apenas isso. Cywiński também sugeriu ficar na prisão por um mês no lugar do garoto e encontrar outros 119 voluntários que também estariam dispostos a fazer o mesmo. Farouq recebeu uma pena de 120 meses de prisão, ou seja, dez anos.
Mais respostas do que o esperado
O que aconteceu desde setembro, quando Cywiński escreveu a carta, superou as expectativas do diretor. Ao todo, 300 pessoas de todo o mundo se inscreveram para participar da ação, incluindo estudantes, desempregados, juízes, clérigos, entre outros.
Entre os que se inscreveram para serem presos no lugar do menino nigeriano está Igor Tuleya, provavelmente o juiz mais famoso da Polônia neste momento. O jurista é alvo de um “órgão disciplinar” recém-criado que retirou sua imunidade e, desta maneira, abriu caminho para um julgamento controverso contra ele.
Em entrevista à DW, Tuleya enfatiza o caráter privado de seus motivos para participar da campanha de solidariedade. Ele diz que se trata de um senso de justiça humano, não necessariamente profissional.
“Fiquei muito comovido com o caso. A punição é desproporcional ao crime do qual ele é acusado”, diz Tuleya. “A injustiça acontece e é preciso tentar ajudar e a mudar o curso das coisas.”
Ele vê a iniciativa como um “grito de protesto”, cuja dimensão simbólica pode fazer a diferença. “Talvez aqueles que condenaram uma criança irão reconsiderar. Temos que acreditar que nosso grito derrubará todos os muros”, diz Tuleya.
Mas, até agora, o silêncio reina. O presidente da Nigéria ainda não respondeu à carta de Cywiński. “Antecipando sua resposta, gostaria de enfatizar que não vou parar de fazer tudo para libertar esse garoto”, escreveu o diretor do memorial.
Cywiński enfatiza que não se trata tanto de receber uma resposta, mas de fazer algo concreto. “Nós nos prendemos cada vez mais em uma cultura na qual acreditamos que é suficiente ‘gostar’ ou ‘compartilhar’ algo de vez em quando e que somos bons porque estamos do ‘lado bom’. Eu queria mostrar que às vezes é preciso fazer mais do que apenas clicar em algo”, frisa.
Crianças não foram poupadas em Auschwitz
Cywiński sabe muito bem para onde a passividade pode levar e quais crimes cruéis foram cometidos contra crianças na história mundial. No Memorial de Auschwitz, do qual ele é diretor há 14 anos, são mantidos registros de vidas que duraram muito pouco. E qualquer pessoa que já esteve em Auschwitz talvez nunca se esquecerá das montanhas de calçados infantis mantidos no local.