Dez donos de bares e restaurantes portugueses personificam o desespero de empresários do setor com as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus: há uma semana estão sem comer, acampados em frente à sede do Parlamento em Lisboa. Queixam-se da falta de apoio do governo, querem ser recebidos pelo primeiro-ministro António Costa ou pelo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.
Bares e casas noturnas estão fechados desde março em Portugal. Restaurantes funcionam com capacidade limitada. Em novembro, o ressurgimento da doença, com 5 mil infectados por dia, fez o governo decretar toque de recolher obrigatório a partir das 13h nos fins de semana. Seria a melhor alternativa para evitar o lockdown total, com o objetivo de “conter a pandemia e salvar o Natal”, como explicou Costa.
Nos primeiros tempos da pandemia, o país foi visto como um modelo e conseguiu controlar rapidamente o número de casos com a quarentena forçada. Após o verão, a situação se descontrolou e forçou novas restrições por parte do governo de maioria socialista.
Nos dias de semana, o toque de recolher começa às 23h. O horário aos sábados e domingos, a partir do almoço, contudo, atingiu em cheio comerciantes e donos de restaurantes.
“São só falências e falências. Muitos negócios dependem desta época” resumiu o empresário João Sotto Mayor, um dos integrantes do movimento A Pão e Água, que diz já ter recolhido 20 mil assinaturas.
A cara mais conhecida do grupo é a do chef Lujobomir Stanisic, estrela do reality show “Pesadelo na Cozinha”, exibido pela TVI, versão portuguesa do britânico “Ramsay’s Kitchen Nightmares”. Bósnio radicado desde 1997 no país, no sexto dia de greve, ele sentiu-se mal e precisou ser atendido num hospital. Mas retornou para a tenda montada nas escadarias da Assembleia Nacional, onde o grupo só aceita a ingestão de água e chá.
Representantes de partidos políticos tentaram uma aproximação para mostrar solidariedade aos empresários que provêm refeições, mas estão sem comer. Foram repelidos, sob o argumento de que o movimento é apartidário e não deseja estar vinculado a qualquer legenda.
Se recebidos pelo governo, os grevistas vão apresentar uma lista de pedidos: isenção da Taxa Social Única, redução do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para 6% e o fim do toque de recolher obrigatório, entre outros.
O governo, por sua vez, alega que já negocia com a associação que representa o setor e não com empresários isolados. E que, entre janeiro e outubro, ofereceu aos restaurantes 20% de sua receita média, disponibilizando 1,1 bilhão de euros para o setor.
A ajuda não satisfaz os grevistas do ramo da alimentação. O pano de fundo do impasse acaba sendo a reabertura integral de bares e restaurantes. E esta decisão parece ainda estar fora dos planos do governo.
Fonte: Blog da Sandra Cohen/G1