Ameaçado de afastamento, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou em entrevista a Época que o “rolo compressor político quer o retrocesso”. Resume numa frase: “A corrupção reage”.
Aos 39 anos, o protagonista da operação no Ministério Público Federal enfrenta o momento mais crítico em cinco anos de Lava Jato.
“Ninguém jamais nos disse que seria fácil enfrentar pessoas poderosas que praticaram crimes gravíssimos contra nosso país. Ninguém jamais nos prometeu isso. Fizemos nosso papel e agora enfrentamos uma reação. Nossa expectativa é que as instituições e a sociedade protejam o trabalho feito e impeçam retrocessos. Eu não devo, e a Lava Jato não deve.”
Dallagnol negou ter investigado ministros do STF, como sugerem algumas das mensagens de seu Telegram, que vem sendo publicadas há dois meses. Confirmou, entretanto, ter tratado com seus colegas sobre a pertinência de pedir o impeachment de Gilmar Mendes : “Estudamos se os atos dele configurariam, para além de atos de suspeição, infrações político-administrativas”. Também admitiu ter discutido a criação de uma empresa para gerir suas palestras e cogitado colocar sua mulher na administração do negócio. Frisou que, se o tivesse feito, estaria seguindo a lei.
“Existe um oportunismo de buscar e identificar qualquer brecha para atacar a operação, distorcer fatos e atacar os personagens que acabaram tendo protagonismo na operação. E o objetivo disso, a meu ver, não é atacar a pessoa do Deltan, a pessoa do Moro. É atacar o caso, a Lava Jato.”
Afirma ainda que, se eventualmente for afastado da função pelo Conselho Nacional do Ministério Público , seguirá no que diz ser seu propósito: “servir à sociedade”.
“O que a sociedade precisa reconhecer é que não é suficiente um grupo de procuradores, policiais, juízes, auditores, de pessoas, lutarem contra o sistema corrupto. Talvez a ilusão tenha sido em algum momento acreditar que a Justiça iria se sobrepor ao sistema político.”
Fonte: Época