O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se reuniu por duas vezes no fim de semana no Palácio da Alvorada com o pai, o presidenteJair Bolsonaro, dias após o mandatário da República anunciar que pretende indicá-lo para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Eduardo passou cerca de 40 minutos no Alvorada acompanhado da mulher. O senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) também acompanhou o encontro.
Tanto no sábado como no domingo, o deputado não falou com imprensa nem com o público que fica do lado de fora da residência presidencial.
A possibilidade de Eduardo assumir um dos principais postos da diplomacia foi criticada, no sábado, por apoiadores do presidente, como o escritor Olavo de Carvalho e a deputada estadual de São Paulo Janaína Paschoal (PSL).
O guru do bolsonarismo disse que seria um “retrocesso” e a “destruição” da carreira do deputado. A deputada, autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, disse não questionar a capacidade do “03”, nem a possibilidade jurídica, mas afirmou que, por ter sido o deputado mais bem votado da história, ele teria uma posição de liderança e precisaria exercer esse papel.
“Eduardo tem muito a fazer na Câmara e na presidência estadual do PSL. Sei que o convite é muito tentador. Mas o certo é recusar. Ele assumiu responsabilidades no Brasil. Precisa cumprir. Basta agradecer a deferência e declinar”, disse a deputada.
Ao Estado, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez ressalvas à possível indicação, mas disse que iria “esperar a decisão do presidente.” “Ele (Eduardo Bolsonaro) é um colega, não vou ficar criticando um colega. Tenho dúvidas se o Eduardo pode ter uma nomeação que não seja de ministro”, comentou Maia, também no sábado.
Em uma rede social no sábado, Bolsonaro remeteu ao tema da indicação do filho à embaixada em Washington, de maneira indireta, ao postar um vídeo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiando o Eduardo Bolsonaro. “Vejo aqui na audiência o filho do presidente, que tem sido fantástico”, disse Trump no vídeo, em uma entrevista coletiva realizada em março, na Casa Branca.
Na noite da sexta-feira, a Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB) disse, por meio de nota, que “embora ciente das prerrogativas presidenciais na nomeação de seus representantes diplomáticos, a ADB recorda que os quadros do Itamaraty contam com profissionais de excelência, altamente qualificados para assumir quaisquer embaixadas no exterior”. A associação reúne mais de 1.500 funcionários da carreira do Itamaraty.
Comissão de Relações Exteriores do Senado pode rejeitar a indicação
Conforme o Estado mostrou no sábado, a possível indicação de Eduardo Bolsonaro pode enfrentar resistência de integrantes da Comissão de Relações Exteriores do Senado – responsável por analisar o nome. Dos 17 senadores, seis disseram ao Estado ser contrários, outros sete afirmaram ser favoráveis, três preferiram não comentar e apenas um não se manifestou.
O principal argumento dos que rejeitam a indicação é a falta de experiência e de perfil para assumir a embaixada americana, considerada a mais representativa do País no exterior.
“Para assumir a embaixada de Washington, precisa de muitos outros atributos, como no mínimo 30 anos de carreira, e não apenas falar bem o inglês”, afirmou o senador Marcos do Val (Cidadania-ES). “Às vezes, parece que Bolsonaro brinca de ser presidente e isso é muito sério”, disse a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
De acordo com os registros da Comissão de Relações Exteriores, apenas uma indicação presidencial para embaixador foi rejeitada ao longo da história. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff enviou o nome de Guilherme Patriota, irmão do ex-chanceler Antônio Patriota, para a vaga de embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA), mas ele não teve aval da maioria dos senadores.
Fonte: Estadão/Breno Pires