
Uma explosão perto de um colégio eleitoral deixou 31 mortos na cidade de Quetta, na província de Balochistan, nesta quarta-feira (25) – dia de eleições gerais no Paquistão.
“Um homem-bomba detonou os explosivos durante a passagem de uma caminhonete da polícia em frente a um colégio eleitoral. Entre os mortos há eleitores e pode haver também algum policial”, afirmou um porta-voz da polícia de Quetta, Muhammed Ramzan.
O atentado acontece apesar de um contingente de 370 mil soldados ter sido mobilizado pelo exército para evitar distúrbios e fraudes nos colégios eleitorais.
Eleições
As eleições gerais no Paquistão são marcadas por dúvidas sobre sua legitimidade, devido a acusações de interferências por parte do Exército, além da volta do terrorismo com grandes atentados e a aparição na cena política de novos partidos com ideologias radicais.
O pleito tem como favoritos ao posto de primeiro-ministro Shahbaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N), e o ex-jogador de críquete Imran Khan, do Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI).
Bilawal Bhutto, à frente do Partido Popular do Paquistão (PPP) e filho da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, é o terceiro melhor cotado, segundo pesquisas, e pode exercer um papel decisivo na formação de um governo de coalizão.
Estas eleições são as segundas na história do país nos quais um governo completa um mandato, e abrirão passagem para a maior etapa democrática da sua história, após ter sido governado por ditaduras militares em metade dos 71 anos desde sua fundação, em 1947.
No entanto, partidos políticos, grupos de direitos humanos e meios de comunicação fizeram acusações de “manipulação” do pleito por parte de militares, que negam qualquer tipo de interferência.
Pressões
A LMP-N denunciou na Justiça pressões contra alguns de seus membros para que se desfiliassem a fim de evitar que o partido retorne ao poder – ele venceu as últimas eleições, em 2013.
Nawaz Sharif, líder da legenda e irmão de Shahbaz, está preso, cumprindo uma condenação de dez anos por corrupção. Ele deixou o cargo de primeiro-ministro em 2017, após ser condenado pelo Tribunal Supremo por não declarar um salário de uma empresa que pertencia a um de seus filhos.
A LMP-N denunciou também pressões contra alguns dos seus candidatos para que mudem de partido na província de Punjab, seu reduto político e que abriga metade da população do país.
Para Bhutto, essas pressões têm como objetivo favorecer o PTI, de Khan, para que forme uma “aliança marionete”, conforme acusou recentemente em um comício.
As denúncias dos dois partidos foram apoiadas pela ONG Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP), que pôs em dúvida a legitimidade das eleições “mais sujas” da história do país.
A HRCP também pôs em dúvida a liberdade de expressão durante a campanha eleitoral, especialmente dos veículos de imprensa.
Nesse cenário, a emissora de televisão “Geo” ficou em abril um mês fora do ar, sem que ninguém explicasse o motivo, e o jornal “Dawn” sofre com problemas de distribuição desde que publicou uma entrevista com Sharif em maio.
Problema do terrorismo
Em meio a estas controvérsias, o terrorismo – que parecia controlado nos últimos anos – reapareceu com o massacre de 149 pessoas em um ataque suicida cometido em um comício na região de Mastung em 13 de abril, e cuja autoria foi reivindicada pelo Estado Islâmico (EI).
Ao mesmo tempo, grupos radicais acusados de defender assassinos de supostos blasfemos, de cometer terrorismo internacional ou de matar membros de minorias religiosas vão concorrer nestas eleições.
Um desses grupos é o Ahle Sunnat Wal Jamaat, acusado de incitar a violência contra minorias religiosas como a xiita, e que estava proibido até o final de junho, quando o governo surpreendentemente suspendeu as restrições que pesavam sobre a legenda e seu líder, o clérigo sunita Ahmed Ludhianvi.
Fonte: G1