Na próxima terça-feira (30), o imperador do Japão, Akihito, vai abdicar do trono. O país, que tem atualmente a monarquia mais longa do mundo — segundo registros oficiais da casa imperial, data de 2,6 mil anos atrás — terá a sua primeira abdicação em 202 anos. Popular, Akihito passará a ser conhecido como “imperador Heisei”, o nome de sua era imperial, quando deixar o Trono de Crisântemo.
Ele anunciou sua abdicação há cerca de um ano e meio. A legislação do país, no entanto, não permitia que o imperador saísse do posto ainda em vida. Para tornar isso possível, uma lei específica, que só se aplica a este monarca, hoje com 85 anos, teve que ser aprovada.
Para a japanóloga Carol Gluck, da Universidade Columbia, em Nova York, dois elementos chamam a atenção na saída do imperador: a mudança na legislação que permitiu a abdicação e visão da opinião pública do país sobre o imperador.
]“A Lei da Casa Imperial diz que o imperador reina até a morte — o que é uma questão política, você não pode simplesmente abdicar. Mas não havia outra opção a não ser aceitar. Eles não podiam simplesmente dizer que não iam deixá-lo abdicar”, explica Carol. Para ela, o fato de o congresso do país ter aceitado modificar a lei por causa de Akihito serve para ratificar o quanto ele é bem visto pela opinião pública.
“Ele é um imperador muito popular, muito benevolente. Ele fez coisas que ninguém nunca fez, como pedir desculpas pelas atitudes japonesas durante a Segunda Guerra Mundial e dizer que a família imperial tem ancestrais coreanos. Isso era impossível de ser dito antes”, diz a especialista.
Em 2016, durante um raro pronunciamento na televisão, Akihito declarou “sentir restrições” na sua disposição física e temer que, no futuro, sua saúde não fosse permitir que cumprisse seus deveres “da melhor forma para o povo e o país”. O imperador passou por uma cirurgia do coração em 2012 e, dez anos antes, tinha sido tratado de um câncer de próstata.
No Japão, o imperador não governa — ele é o símbolo do Estado, conforme prevê a Constituição do país, em vigor desde 1947. O texto foi imposto aos japoneses pelos americanos durante a ocupação pós-Segunda Guerra.
Mesmo antes disso, na maior parte da história do país, o monarca reinava, mas não governava. Segundo a mitologia japonesa, os primeiros imperadores, de mais de 2 mil anos atrás, eram descendentes diretos dos deuses do Sol. Apesar de constarem no registro da casa imperial, não há comprovação de que eles, de fato, existiram.
Fonte: G1