A ex-presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, disse em uma carta escrita da prisão que o governo de Luis Arce atenta contra sua saúde. Áñez, presa há quase duas semanas, é investigada sobre a suposta derrubada do presidente Evo Morales – aliado de Arce.
O documento sem data foi divulgado nesta terça-feira (23) pelo perfil oficial de Áñez no Twitter.
“Levaram minha liberdade e agora atentam contra minha saúde”, escreveu a ex-mandatária. “Decidiram não deixar que eu fosse examinada por médicos independentes. Mesmo indo contra uma ordem judicial que pede meu traslado imediato para uma clínica.”
Na carta de sete páginas escritas à mão, Áñez denuncia supostos abusos, perseguição política e nega ter cometido o crime de terrorismo pelo qual é investigada.
‘Prisão da ditadura’
Áñez começa seu texto dizendo que fala ao povo boliviano de dentro de uma “prisão da ditadura” e que enfrenta as acusações com serenidade.
“Essa é uma luta pela democracia, e vamos com ela até o fim”, escreveu. “Eu sou mais uma [vítima], mas estou serena e aguentando enquanto meu corpo deixar.”
Carta divulgada no perfil oficial de Jeanine Áñez no Twitter em 23 de março de 2021 — Foto: Reprodução/Twitter/@JeanineAnez
Áñez e dois ex-ministros de seu governo foram presos entre os dias 12 e 13 de março. Eles são acusados de sedição e terrorismo.
“Hoje a ditadura quer me atribuir crimes que eu não cometi”, disse a ex-presidente. “Nunca fui terrorista. Assumi a presidência pela sucessão constitucional, para pacificar a Bolívia. Não houve golpe, houve fraude.”
Dúvidas sobre sua saúde
Na sexta-feira (19), a Justiça boliviana autorizou a transferência de Áñez para uma clínica, com escolta policial, mas a decisão foi anulada no sábado (20) por entender que o presídio de Miraflores tinha estrutura médica e sanitária para acompanhamento da ex-presidente.
Segundo a decisão judicial, Áñez e seus ex-ministros poderão ficar detidos de forma preventiva por até seis meses enquanto a Procuradoria realiza investigações sobre a acusação de golpe de Estado.
“Eu não confio nos médicos do governo, eles são parte desse sistema de abusos e repressão”, diz a carta. “Eles já mostraram que estão dispostos a pôr minha vida em risco.”
“Se algo acontecer com minha saúde, eu responsabilizo a: Luis Arce, Eduardo del Castillo, Jhonny Aguilera, Iván Lima, e autoridades do regime penitenciário”, escreveu Áñez.
A advogada de Áñez disse que a ex-presidente teve um desmaio dentro da prisão e que está “em estado crítico” devido ao aumento da sua pressão. As autoridades prisionais afirmam que o quadro dela é estável e que está sob supervisão médica.
Justiça, não vingança
O presidente boliviano, Luis Arce, afilhado político de Morales, negou as acusações opositoras de que a situação é movida por uma sede de vingança e ódio contra seus adversários políticos.
Durante uma reunião pública de mulheres camponesas, alinhadas ao governo, disse: “O ódio não nos move, a vingança não nos move, (…) O que nos move é o afã inquebrantável de justiça no país”.
O governo negou desde o fim de semana passado que esteja manipulando procuradores e juízes para apresentar a denúncia da ex-parlamentar Patty e insiste em que quer que os fatos ocorridos no fim de 2019 sejam esclarecidos.
E insiste em que a saída de Morales do governo fez parte de um complô da direita.
Fonte: G1