Estimativa divulgada nesta quarta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de 30,8 mil venezuelanos vivem no Brasil atualmente. Destes, aproximadamente 10 mil cruzaram a fronteira somente nos seis primeiros meses de 2018.
O levantamento do IBGE tem como base dados da Coordenação Geral de Polícia de Imigração da Polícia Federal a partir de 2015. Naquele ano, eram cerca de mil venezuelanos vivendo no país. Assim, em apenas três anos essa população aumentou 3.000%.
O aumento exponencial da imigração de venezuelanos para o Brasil tem relação direta com o agravamento da crise política, econômica e social do país, com inflação alta e desabastecimento. A cidade de Pacaraima, em Roraima, é a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil.
Entre 2015 e 1º de julho de 2018, deram entrada no Brasil cerca de 30,2 mil venezuelanos. Para chegar ao número de 30,8 mil vivendo no país até o dia 1º de julho, o IBGE considerou movimentos inerentes a qualquer população residente em um país.
“Precisamos considerar aqueles que morreram, os que tiveram filhos e que migraram para outros países. Então, sobre toda a população de venezuelanos que entrou no país, aplicamos taxa de mortalidade e taxa de natalidade, por exemplo”, explicou a pesquisadora do IBGE, Izabel Merri.
Segundo a pesquisadora, o IBGE não considera estimativas de imigrantes de outros países. “Para a população brasileira, é irrisória a população de imigrantes que entram no país e a forma como eles se espalham. Mas, para Roraima a gente teve que considerar a imigração venezuelana, por causa do contingente de pessoas daquele país buscando refúgio no Brasil”, explicou.
Do total de venezuelanos que imigraram para o Brasil, o IBGE aponta que 99% está em Roraima, na cidade fronteiriça de Pacaraima e, também, na capital Boa Vista. A população do estado é estimada em 576,6 mil habitantes, e a da capital em 375,4 mil. Assim, o número de venezuelanos vivendo em Roraima corresponde a mais de 8% do total de habitantes da capital.
“Isso [a proporção de venezuelanos em relação à população local] é muita coisa. Roraima está vivendo um processo complicado para receber essa população e, sobretudo, para provê-la com serviços básicos”, enfatizou Izabel Merri.
Na semana passada, o governo de Roraima enviou ao governo federal um ofício com dez cobranças específicas para que o estado enfrente o fluxo desordenado de venezuelanos. Para embasar os pedidos, afirmou possuir 1.484 alunos imigrantes matriculados em suas escolas e ter atendido 7.457 venezuelanos em unidade estaduais de saúde neste ano. Destacou também ter 99 imigrantes venezuelanos no sistema prisional do estado, que demandam gasto mensal de R$ 2.014,58 cada um.
Número de imigrantes deve mais que dobrar em 4 anos
O IBGE estima que, até o final de 2018, mais 9,7 mil venezuelanos imigrem para o Brasil. Para 2019, o órgão projeta a entrada de outros 15,6 mil. A partir de 2020, essa imigração tende a diminuir. Mas, caso a projeção do IBGE se concretize, o Brasil deve chegar em 2022 com cerca de 79 mil imigrantes do país vizinho.
As projeções do IBGE mostram que o colapso econômico tem relação direta com o fluxo migratório da Venezuela ao Brasil, que aumenta desde 2015. Com a piora da crise no país vizinho, a imigração se intensificou especialmente por terra. Assim, os venezuelanos têm de cruzar, muitas vezes a pé, a fronteira com o município de Pacaraima, norte de Roraima.
Assim, desde o começo deste mês, o governo de Roraima e órgãos do judiciário travam batalhas para fechamento ou controle das fronteiras com o país de Maduro. Veja a sequência:
1° de agosto: A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), assina decreto para endurecer as regras de acesso dos venezuelanos a serviços públicos do estado, que seria restrito apenas a imigrantes com passaporte;
3 de agosto: A Advocacia Geral da União (AGU) pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão imediata do decreto do governo de Roraima por considerar que o ato é inconstitucional;
5 de agosto: O juiz federal Helder Girão Barreto, da 1ª Vara da Federal de Roraima, determina a suspensão do ingresso e a admissão de imigrantes venezuelanos no Brasil. De acordo com a Justiça Federal, a decisão se refere a entradas feitas pela fronteira do país com o estado de Roraima. A liminar não abrangia outras nacionalidades e vetava apenas a entrada de venezuelanos.
7 de agosto: A fronteira do Brasil é reaberta para imigrantes venezuelanos após decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
20 de agosto: O governo de Roraima pede ao STF que suspenda temporariamente a imigração na fronteira com a Venezuela.
28 de agosto: O presidente Michel Temer assinou decreto que autorizou o uso das Forças Armadas para reforçar a segurança no estado de Roraima até o dia 12 de setembro.
E nos outros países?
O Peru e o Equador passaram a exigir passaporte para a entrada de venezuelanos, o que não ocorria antes da crise migratória. A vizinha Colômbia, em outra linha, concedeu mais de 440 mil vistos temporários a imigrantes venezuelanos, após decreto editado por Juan Manuel Santos, antes de ele transmitir o cargo de presidente para o sucessor Iván Duque.
Fonte: G1