Milhares de pessoas protestam em Hong Kong neste sábado (3), contrariando advertências do governo da China.
Os manifestantes ignoraram exigência da polícia e ultrapassaram o local demarcado para o fim do protesto, que começou no bairro de Mong Kok e se espalhou para outras regiões. Eles atearam fogo em frente a uma estação policial, ergueram barricadas num shopping e chegaram a bloquear um túnel. Muitos usavam capacetes.
Os oficiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão e alegaram que tiveram “vários veículos” danificados dentro de um posto policial.
Mong Kok é um subúrbio densamente povoado e já foi cenário de confrontos entre a polícia e os ativistas. Em um primeiro momento, a passeata no bairro foi proibida pela polícia, mas acabou sendo autorizada após recurso.
Do outro lado da cidade, foi realizada uma passeata de apoio ao governo, também com milhares de participantes. Muitos deles exibiam bandeiras da China e alguns levavam cartazes com os dizeres “dê uma chance à paz”.
Ameaças do governo
A crise se agrava cada vez mais no território semiautônomo de Hong Kong. Pequim e as autoridades locais elevaram o tom durante a semana, com a prisão de dezenas de pessoas, e o exército chinês anunciou que poderia reprimir “distúrbios”. Mas os manifestantes não recuaram e prometem mais movimentos.
Outros dois protestos estão previstas para domingo, um na ilha de Hong Kong e outro no setor de Tseung Kwan O. Para segunda-feira foi convocada uma greve geral na cidade, além de manifestações em sete locais.
Pior crise desde 1997
A ex-colônia britânica enfrenta sua pior crise desde que foi devolvida à China, em 1997. O território registra oito fins de semana consecutivos de grandes mobilizações, seguidas em muitos casos por confrontos entre pequenos grupos radicais e as forças de segurança.
A crise eclodiu há dois meses, com a oposição a um projeto de lei em Hong Kong – atualmente suspenso – que permitiria extradições para a China. Mas o movimento acabou se transformando em uma campanha de denúncia contra a redução das liberdades na megalópole e para exigir reformas democráticas.
Graças ao princípio “um país, dois sistemas”, pelo qual o Reino Unido cedeu Hong Kong à China, a cidade goza de liberdades desconhecidas no restante do país, ao menos até 2047. Mas, cada vez mais, os moradores de Hong Kong temem que Pequim viole esse acordo.
Muitos reclamam da prisão de livreiros de Hong Kong na China, da perseguição de políticos famosos e da detenção de líderes do movimento pró-democracia.
Aumento da repressão
Nos protestos, as forças de segurança utilizam de forma recorrente balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Os manifestantes respondem e jogam objetos contra os agentes.
As agressões a manifestantes no fim de julho por parte de supostos membros das chamadas tríades – grupos criminosos de origem chinesa que operam na China e em Hong Kong – deixaram 45 feridos e aumentaram ainda mais a tensão.
Na quinta-feira, as autoridades anunciaram a detenção de sete homens e uma mulher acusados de posse de explosivos.
A repressão aumenta no território. Esta semana, 44 manifestantes foram acusados por participação nos “distúrbios”, crime que pode ser punido com até 10 anos de prisão.
As autoridades também advertiram que os funcionários públicos que protestaram na sexta-feira (2) correm o risco de demissão. A manifestação foi uma iniciativa inédita para um setor conhecido por seu conservadorismo e discrição.
A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que suspendeu o polêmico projeto de lei, tem feito poucas aparições públicas. Os manifestantes exigem sua renúncia e uma investigação independente sobre a estratégia policial, assim como anistia para as pessoas detidas pelos protestos, a retirada total do projeto de lei e o direito de escolher seus dirigentes.
Fonte: G1