As forças opositoras venezuelanas, reunidas na coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), travam um intenso debate sobre as decisões a tomar diante da antecipação da eleição presidencial, anunciada na semana passada pelo presidente Nicolás Maduro, que ao mesmo tempo radicaliza sua postura dentro e fora do país.
Entre os partidos de oposição, está muito viva a tese de não participar de processos eleitorais sob as condições propostas pelo chavismo. As negociações na República Dominicana entre a MUD e o Governo estão “moribundas”, apesar dos esforços dos mediadores, segundo o representante da oposição nesse diálogo, Luis Florido.
Até agora, porém, parece haver na cúpula da MUD um sentimento de urgência sobre a escolha de um novo líder da coalizão, alguém que possa assumir uma candidatura presidencial caso se concretizem as condições mínimas para a participação ou, na ausência disso, que assuma as rédeas e a liderança para confrontar o chavismo num cenário extremo da crise, já numa situação extraeleitoral.
E, embora alguns continuem falando em eleições primárias, numa consulta direta à população, a tese do consenso político, expressando unicamente um acordo entre os partidos da Mesa, ganhou terreno ultimamente, em virtude da urgência.
Leopoldo López e Henrique Capriles Radonski, os dois dirigentes mais enraizados na oposição e com maior sintonia e empatia entre as maiorias, segundo as pesquisas de opinião, estão impedidos de participar das próximas eleições devido a vetos impostos pela legalidade chavista.
Nesse contexto, o nome do industrial Lorenzo Mendoza, presidente do conglomerado empresarial Polar, como possível líder das forças democráticas, começa a ser citado com insistência como uma possibilidade certa. Alguns dirigentes fundamentais da MUD, tocados por um sentido da urgência, discutiram seriamente sobre essa eventualidade.
À frente de um complexo agroalimentício que inclui uma importante fábrica de cerveja e outras bebidas, Mendoza é um sobrevivente do combalido parque empresarial e industrial privado venezuelano, praticamente o único a manter seu poderio. Tanto sua figura como a das empresas Polar conseguiu resistir aos ferozes embates contra o chavismo, inclusive nos melhores tempos de Hugo Chávez. Mendoza, cujas empresas com frequência são submetidas a draconianos controles por parte das autoridades, mantém uma imagem limpa entre os venezuelanos, apesar da intensa propaganda contra si na televisão estatal: a do empresário nacional eficiente e comprometido com o país.
O próprio chavismo precisou em mais de uma ocasião da sua colaboração, mas no Palácio de Miraflores, a sede do Governo, Lorenzo Mendoza é visto como um inimigo: o arquétipo natural do capitalista. Mendoza conta com clara simpatia em densos setores da população, e por isso é visto com enorme receio dentro do chavismo.
Lorenzo Mendoza não emitiu qualquer declaração admitindo interesse em ingressar na política, em meio à mais grave crise vivida na Venezuela em pelo menos oito décadas. Mas tampouco nega tal aspiração. Por outro lado, vários dirigentes opositores conhecidos, como Richard Mardo, do partido Primeiro Justiça, pediram-lhe publicamente que assuma essa responsabilidade. Algumas pessoas opinam que não dará esse passo, porque não se animará a atravessar o elástico vigamento jurídico do chavismo, agora que o movimento opositor aparece encurralado. Enquanto isso, seu silêncio se estende, a intriga se intensifica, e os rumores sobre seu nome como líder aumentam.
Além de Mendoza, dentro da MUD já entraram em campo três nomes propostos seriamente como candidatos ou líder para os eventos que 2018 venha a oferecer. São eles Henry Ramos Allup, secretário-geral do partido Ação Democrática; Henry Falcón, ex-governador do Estado de Lara, à frente do partido Avanço Progressista; e Andrés Velásquez, líder da Causa Radical.
LiberdadePB-Ana Paula Leite
Fonte: El País Foto: Reprodução