Durante entrevista a bordo do avião papal na terça-feira (10), quando voltava de Antananarivo, em Madagascar, para Roma, o Papa Francisco voltou a falar da necessidade de proteção ao meio ambiente. O pontífice afirmou que a corrupção está na base da exploração ambiental.
Ao ser entrevistado por jornalistas de vários países, por uma hora e meia, ele foi questionado se acreditava que os governos das áreas que sofrem com desmatamentos e incêndios, como a Amazônia, estão fazendo “todo o possível” para proteger a floresta.
“Os governantes estão fazendo tudo? Alguns mais, outros menos. É verdade que há uma palavra que devo dizer e que está na base da exploração ambiental. (…) E a palavra feia é corrupção: eu preciso fazer isso e para fazê-lo devo desmatar e preciso da permissão do governo ou do governo provincial”, declarou o Papa.
O pontífice deu um exemplo: ele afirmou que um empresário espanhol lhe disse que, se desejasse aprovar um projeto, a primeira pergunta que ouvia das autoridades era sobre os ganhos pessoais que a permissão lhes traria.
“(…) Aqui repito literalmente aquilo que me disse um empresário espanhol – e a pergunta que nós ouvimos quando queremos aprovar um projeto é “Quanto para mim?”, descaradamente. Isso acontece na África, na América Latina e também na Europa”, disse Francisco.
Na resposta sobre o meio ambiente, ele citou ainda a importância de preservar não só o bioma da região amazônica, mas também outros, como os da África. O Papa acaba de voltar de uma visita de sete dias ao continente – ele passou por Madagascar, Moçambique e as Ilhas Maurício.
Francisco já havia se pronunciado sobre a necessidade de proteger o meio ambiente: em julho, ele afirmou que uma mentalidade “cega e destruidora” prevalece na Amazônia. Em agosto, ele pediu um compromisso global para combater as queimadas na floresta.
O Vaticano prepara, ainda, um encontro em outubro para discutir os principais problemas da região amazônica a presença da Igreja no lugar.
Rompimento
Na entrevista, o Papa também foi questionado sobre possíveis temores quanto a um cisma – rompimento – com a Igreja Católica americana. Em voo anterior, para Maputo, em Moçambique, ele reconheceu estar sob ataque de um segmento da instituição. Ele é criticado por alguns bispos e cardeais dos Estados Unidos, e, segundo o jornalista do “The New York Times” que o questionou na coletiva de imprensa, alguns aliados mais próximos do pontífice falam de um complô contra ele.
“As críticas não vêm só dos americanos, elas vêm um pouco de toda parte, até da cúria [centro administrativo da Igreja]. (…) Isto está claro: críticas justas são sempre bem recebidas, pelo menos por mim”, disse.
Francisco acrescentou:
“Em segundo lugar, o problema do cisma: dentro da Igreja houve vários cismas. (…) Eu rezo para que cismas não aconteçam, mas não os temo”, disse.
“Por exemplo, as coisas sociais que digo são as mesmas que João Paulo II dizia, as mesmas coisas! Eu o copio. Mas eles dizem: o Papa é comunista… ideologias entram na doutrina e, quando a doutrina entra na ideologia, aí está a possibilidade de um cisma”, completou o pontífice.
Fonte: G1