O papa Francisco defendeu nesta terça-feira (25) o acordo entre o Vaticano e a China, e adiantou que terá a última palavra sobre a nomeação dos próximos bispos do país asiático, após um diálogo com as autoridades comunistas sobre os candidatos.
Trata-se da primeira declaração do papa sobre a histórica aproximação entre China e Vaticano, assinada em 22 de setembro e que abre o caminho à normalização das relações diplomáticas entre os dois Estados, rompidas desde 1951.
“É um diálogo sobre os eventuais candidatos. As coisas são feitas com o diálogo. Mas Roma fará nomeações. O papa é quem nomeia. Isso está claro”, assinalou na tradicional entrevista coletiva com os jornalistas que o acompanham no avião papal que o leva dos Países Bálticos para Roma.
As próximas nomeações constituem um passo fundamental para a unificação das duas igrejas católicas que convivem nesse país comunista: a oficial e a clandestina.
“E oremos pelos sofrimentos daqueles que não entendem ou que passaram tantos anos na clandestinidade”, acrescentou o pontífice.
O acordo, cujo conteúdo não foi divulgado e que é “provisório”, afundou na incerteza os milhões de católicos chineses fiéis à chamada “Igreja clandestina”, que obedece ao papa de Roma, mais do que a Igreja “oficial” submetida ao regime, pelo qual o pontífice quis recordá-los.
Em toda negociação ‘as partes perdem algo’
“Penso na resistência, nos católicos que sofreram. É verdade, vão sofrer. É que em todo acordo há sofrimento”, comentou, afirmando que em toda negociação ou acordo de paz “as partes perdem algo” para poder avançar.
O papa argentino também elogiou a equipe de especialistas do Vaticano que trabalhou para alcançar o degelo com a potência econômica, entre eles o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, “um devoto da lentidão”, disse, e que conseguiu substancialmente que o papa seja reconhecido como chefe único.
“Demos dois passos à frente, depois um para trás… E depois meses sem nos falarmos”, contou, descrevendo as dificuldades de chegar a um acordo.
“O acordo foi assinado por mim, eu sou o responsável. Os outros trabalharam mais de 10 anos. Isso não é um improviso, é um caminho da verdade”, explicou.
O pontífice argentino assegurou que confia na “grande fé” dos católicos chineses, aproximadamente 12 milhões de pessoas, um número que pode crescer nas próximas décadas.
O papa Francisco, que desde que assumiu o pontificado em 2013 multiplicou os gestos na direção da China, disse em outras ocasiões que gostaria de visitar esse país um dia. Um desejo que poderia ser cumprido após o estabelecimento de relações diplomáticas.
A China, por sua vez, deixará de nomear bispos sem o mandato papal, como ocorria no passado, e será consultada sobre os candidatos.
Fonte: AFP