A Santa Sé e a China comunista se preparam para renovar um acordo histórico assinado há dois anos, que dá ao papa a última palavra na nomeação de bispos chineses
A China tem cerca de 12 milhões de católicos. É uma minoria pequena no país, que tem quase 1,4 bilhão de pessoas. Há décadas, os praticantes dessa religião na China estão divididos entre uma Igreja “patriótica” (controlada pelo regime comunista) e uma chamada Igreja “clandestina” que reconhece o autoridade do papa e muitas vezes é perseguida.
Em todo o mundo, é o papa quem decide sobre a nomeação dos bispos, homens que ele mesmo conheceu ou que lhe são recomendados pelas conferências episcopais nacionais.
O papa Francisco adotou uma atitude diplomática de pequenos passos com Pequim, para unir uma Igreja chinesa dividida. Em 22 de setembro de 2018, o Vaticano selou um acordo provisório com o regime comunista de Pequim cujo conteúdo exato nunca foi publicado.
O único ponto anunciado na época: o papa Francisco reconheceu imediatamente oito bispos chineses que haviam sido nomeados por Pequim sem sua aprovação.
Antes, eles tinham que se tornar membros da Igreja Patriótica oficial, o que alguns antigos prelados se recusam a fazer.
Encontro em 2020
Em fevereiro de 2020, autoridades do Ministério das Relações Exteriores da China e do Vaticano se encontraram publicamente em um evento internacional, um fato inédito em sete décadas.
As relações diplomáticas entre Pequim e a Santa Sé foram rompidas em 1951, dois anos depois que os comunistas chegaram ao poder.
O Vaticano ainda mantém relações diplomáticas com Taiwan –esta ilha é considerada por Pequim como uma província chinesa à espera da reunificação.
Autorização do papa para renovar acordo
O papa Francisco acaba de autorizar a renovação do acordo, ainda em modo experimental, por mais dois anos, disse à AFP uma fonte próxima ao assunto. Uma troca de notas com a China deve ainda ser selada em outubro.
Questões espinhosas, como a de padres católicos chineses que desaparecem repentinamente de suas paróquias por semanas, estão sendo levadas em conta por diplomatas do Vaticano, assegura este especialista.
Críticas aos acordos
O cardeal Joseph Zen de Hong Kong e o padre italiano Bernardo Cervellera, ex-missionário na China, fazem críticas frequentes ao acordo.
“Nosso interesse atual com a China é normalizar ao máximo a vida da Igreja”, explicou em meados de setembro o cardeal Pietro Parolin, braço direito do papa Francisco e principal arquiteto do acordo, ao admitir que os primeiros resultados do acordo “não foram particularmente notáveis”.
Quatro dias antes, Zhao Lijian, porta-voz do chanceler chinês, havia falado positivamente do acordo bilateral, que, segundo ele, foi “implementado com sucesso”. Pequim pratica há vários anos uma política de “sinização” das religiões, com o objetivo de adequá-las aos objetivos do poder comunista.
A China do presidente Xi Jinping, que assumiu o poder em 2012, aumentou sua vigilância sobre todos os cultos. Igrejas foram destruídas, cruzes retiradas de campanários e creches religiosas fechadas.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump usa a repressão religiosa na China como um argumento para a campanha presidencial.
Seu secretário de Estado, Mike Pompeo, partiu para o ataque ao Vaticano ao publicar, no final da semana passada, um texto em uma rede social e uma coluna denunciando as perseguições de crentes de todas as religiões na China.
“Mais do que nunca, o povo chinês precisa do testemunho moral e da autoridade do Vaticano”, disse ele na revista religiosa americana “First Things”. Ele acrescentou que “o acordo entre a China e o Vaticano não protegeu os católicos contra as ações do partido”.
Veja abaixo reportagem sobre proibição de redes sociais chinesas nos EUA
Fonte: AFP