A polícia prendeu no domingo (20) o quinto pré-candidato à presidência da Nicarágua. Miguel Mora, que também é jornalista, foi detido em sua casa em uma investigação por crimes contra a soberania nacional.
O governo autoritário do atual presidente, Daniel Ortega, tem usado uma lei aprovada em 2020 para silenciar e punir opositores, a “Lei de Defesa dos Direitos do Povo à Independência, Soberania e Autodeterminação pela Paz” (veja mais abaixo).
Ela tem servido de pretexto para prender opositores, tornando ilegal o financiamento de ONGs, e acusá-los de lavagem de dinheiro por doações internacionais, como a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
Miguel Mora é investigado por crimes contra a soberania, por “incitar a interferência estrangeiras em temas internos e pedir intervenções militares”.
Ele é pré-candidato à presidência pelo Partido da Renovação Democrática (PRD), mas o tribunal eleitoral retirou o caráter de pessoa jurídica do partido em maio, o que o excluiu da eleição de 7 de novembro.
Esta é a segunda operação contra Mora: ele já havia sido detido em 21 de dezembro de 2018, por acusações de incitar o ódio para promover atos terroristas durante os protestos contra o governo, e liberado seis meses depois sob uma lei de anistia.
Já são 17 opositores detidos a menos de cinco meses da eleição geral, incluindo cinco pré-candidatos à presidência. Além de Mora, foram presos recentemente:
- Juan Sebastián Chamorro García, economista, no dia 9
- Manágua Felix Maradiaga, cientista político, no dia 8
- Arturo Cruz, ex-diplomata, no dia 6, detido no aeroporto ao retornar de viagem aos EUA
- Cristiana Chamorro, prima de Juan Sebastián, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro e principal opositora de Ortega, no dia 2
O governo Ortega também prendeu cinco dissidentes do movimento sandinista, que o levou ao poder, no dia 13:
- Dora María Téllez, ex-guerrilheira, dirigente da União Democrática Renovadora
- Ana Margarita Vigil Guardián, dirigente da União Democrática Renovadora
- Suyen Barahona Cuan, vice-presidente da União Democrática Renovadora
- Hugo Torres, general da reserva
- Víctor Hugo Tinoco, sociólogo e ex-vice-chanceler
Daniel Ortega
Daniel Ortega tem 75 anos, está há 14 anos consecutivos no poder e tem sua mulher Rosario Murillo, como vice.
Ele já havia ocupado a presidência antes. Desde que foi eleito pela segunda vez, em 2007, passou a atacar as instituições democráticas, alinhando-as ao governo, e a perseguir opositores e jornalistas.
Ex-revolucionário sandinista, Ortega moldou o país como um regime totalitário com falso verniz democrático, realizando eleições a cada cinco anos, mas sem alternância de poder.
Para isso, nomeou juízes da Suprema Corte que asseguraram, em 2018, reeleições indefinidas. Ortega também reprimiu com violência os protestos que atingiram o país há dois anos, o que resultou em mais de 300 mortos.
O governo considera que as manifestações de 2018, que também terminaram com milhares de exilados, foram uma tentativa de golpe de Estado para afastar Ortega do poder.
Fonte: G1