A polícia Metropolitana de Londres deteve um segundo suspeito de assassinar o brasileiro Iderval Silva, de 46 anos, na capital britânica.
Um rapaz de 16 anos foi detido nesta quarta (29) sob suspeita de assassinar o capoeirista. Ele foi levado para uma delegacia na região oeste de Londres, onde está sob custódia da polícia.
Outro rapaz de 16 anos havia sido apreendido próximo ao local do crime, sob suspeita de causar dano corporal grave ao brasileiro. Ele também foi levado para a delegacia, mas liberado com a obrigação de voltar para responder às investigações no começo de junho.
Iderval era um instrutor de capoeira que, para complementar a renda, trabalhava como entregador de um aplicativo de entrega de comida. Ele foi atacado na tarde de sábado (25) ao se aproximar de um grupo de homens que aparentemente tentava furtar sua moto em um estacionamento próximo a estabelecimentos comerciais. O ataque aconteceu em um bairro no sul de Londres.
Ele foi levado ao hospital, mas não resistiu à agressão e morreu nesta terça (28). Deixou um filho de 24 anos. O Consulado-Geral do Brasil em Londres diz estar acompanhando o caso. A família ainda está decidindo sobre o traslado do corpo.
Em nota, a polícia Metropolitana de Londres afirmou que o grupo fugiu do local antes de a polícia chegar, às 16h32 daquele sábado. A moto não foi roubada.
“Era um grupo de rapazes jovens, alguns em bicicletas, que estavam circulando na área antes do ocorrido”, disse em nota o investigador Mark Cranwell. “Há uma investigação urgente em andamento e estamos determinados a encontrar os responsáveis.” Ele pediu colaboração nas investigações de quem tenha visto o grupo antes, durante ou depois do ataque na região.
O capoeirista, natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, deixou o Brasil em 2000. Foi viver com a mulher e o filho em Portugal. Há dois anos, se mudou para o Reino Unido com o objetivo de expandir a associação de capoeira que mantinha em Portugal. Morou no interior da Inglaterra e, em março, se mudou para Londres, a capital.
Conhecido como contramestre Bugrão, Iderval é descrito por amigos como uma pessoa pacífica e tranquila, que gostava de ensinar capoeira e era querido pelos alunos.
Em Portugal, trabalhou como segurança e deu aulas de capoeira e forró. Viajava frequentemente pela Europa, convidado para dar aulas de capoeira em países como Espanha, Alemanha e Finlândia.”Ele era uma pessoa muito calma, pacífica, muito responsável com horários, superatencioso com os alunos de capoeira e ajudava em projetos sociais”, diz sua ex-mulher, a esteticista Luciana Pereira Vicente, de 44 anos, que mora em Portugal.
Há cerca de dois anos, Iderval se mudou para o Reino Unido com a intenção de ampliar seu projeto de capoeira. Morou durante um período na cidade King’s Lynn, a 170 km de Londres e em março se mudou para a capital. Vivia em Croydon, subúrbio no sul de Londres.
Iderval e o amigo André Luiz Maciel, também capoeirista, pretendiam abrir montar no Reino Unido uma associação de capoeira a que os dois tinham em Portugal. “Tivemos bastante dificuldades em ter espaço. Viemos com essa intenção. Pensamos: não tem programas para adolescentes na rua, não tem basquete, vôlei, judô. A ideia era oferecer a capoeira.”
Ele diz que os dois, por não terem “sucesso financeiro ainda” e para “pagar as contas”, começaram a entregar comida via Uber. Um grupo de brasileiros, muitos deles entregadores de Uber e outros aplicativos em Londres, fez um protesto com buzinaços após o ataque.
Maciel afirma que testemunhou o momento do ataque. “Alguém subiu na moto dele e eu pensei que fosse algum amigo nosso. Em questão de segundos, teve uma luta. No meio da luta estavam os meninos do bairro”, afirma. Ele diz que eles estavam em frente a um café em Battersea, bairro no sul de Londres, e que “congelou”. “Não consegui reagir.” Ele não sabe dizer quantas pessoas atacaram seu amigo.
O cineasta brasileiro Fred Alves, de 41 anos, que mora na Holanda e viaja registrando grupos que divulgam a cultura brasileira na Europa, conta uma história que diz ilustrar como Iderval era pacífico. “Em julho do ano passado, estávamos em Frankfurt, quando um rapaz bateu na minha câmera no metrô. Ele me disse: ‘Acalme-se, não vale brigar, isso não vale de nada’.”
Para o assistente operacional e instrutor de capoeira português André Dias, de 31 anos, que o conheceu em um grupo de capoeira em Portugal, ele foi uma pessoa “que deu muito apoio psicológico e incentivo” aos alunos de capoeira, “ensinou muito do sentido da arte e da cultura” e “era uma pessoa muito positiva e serena”. “Temos muito o que agradecer a ele.”
“Ele era um educador, um amigo, um cara que não gostava de nada negativo, super da paz, um pai para os alunos”, afirma Maciel. “Estou super chocado, já não tenho mais o que chorar.”
Fonte: BBC