O prefeito de Pombal, Verissinho, sancionou a Lei Nº 1.928 de 13 de maio de 2020, que destaca um prédio histórico e os grupos folclóricos da cidade.
Com a Lei sancionada, passam a compor o patrimônio cultural de Pombal os seguintes bens de natureza imaterial tombados conjuntamente através desta Lei: O Prédio da Casa do Rosário, a Irmandade dos Negros do Rosário, os grupos folclóricos “Os Pontões”, “Reisado” e “Congos”.
Conheça a história:
A IRMANDADE DO ROSÁRIO, GRUPOS FOLCLÓRICOS E SUA TRADIÇÃO
Verneck Abrantes
De acordo com a tradição oral, um lendário negro, Mané Cachoeira, teria ido a Olinda, três vezes, a pé, a fim de obter a aprovação da Irmandade do Rosário, pelo bispo daquela cidade a quem estava subordinado a paróquia de Pombal-Pb.
Manoel Cachoeira teria sido o fundador da Irmandade, o introdutor da festa folclórica sengundo os informantes dos Congos e dos Pontões, além de ser o constituidor do patrimônio.
A verdadeira dimensão de Manoel Cachoeira perdeu-se. Seria talvez um negro liberto, beato (morreu solteiro) e com seu trabalho teria constituido o patromônio da Irmandade.
Sem lançar luz sobre a sua personalidade, o hsistoriador Wilson Seixas registra existir nos arquivos velhos da Paróquia os documentos da Irmandade do Rosário, segundo os quais o Bispo de Olinda, Dom João Fernando Thiago Esberardi teria dado a ereção canônica para criação da confraria, a requerimento de Manoel Antônio de Maria Cachoeira, que saira de Pombal a pé, com aquele fim.
O historiado registra o dia 18 de julho de 1895, como data do despacho. Acreditamos que antes de deixar Olinda, em 1894, para ser o primeiro arcebispo do Rio de Janeiro,Dom Esberardi tenha deixando o documento assinado, já que era um devoto do Rosário.
É provável que o número de viagens a Olinda (três) tenha sido fixada pela lenda, sempre são 3 as tarefas difíceis nos contos folclóricos. Certamente Mané Cachoeira teria enfrentado sérias dificuldades para aprovação de sua confraria, como preto e sertanejo de remota ribeira, mas haverá de ter contando com a boa vontade do bispo, ele também, um ardoroso devoto do rosário.
Quanto aos aspectos folclóricos da devoção do Rosário; Manoel Cachoeira seria o pai das manifestações lúdicas. Na verdade, entrando em contato com irmandades de pretos do Recife, Olinda, Igarassu e Goiana, lugares que estariam obrigatoriamente no seu roteiro de viagem, poderia ter assistido e assimilado os autos populares introduzindo-os na sua comunidade de Pombal.
Hoje o governo da Irmandade é composto de um juiz, um escrivão, um tesoureiro, um zelador e doze irmãos de mesa, todos escolhidos entre os membros da Irmandade que apresentem a melhor conduta. Os dirigentes e irmãos de mesa são religiosos praticantes, não bebem e tem uma vida bastante ascética.
O patrimônio da Irmandade é constituído pelo templo, seus móveis e alfaias, tem uma casa na Rua do Rosário, onde pernoita o Rosário na véspera da grande festa.
O juiz da Irmandade é o Rei da Festa do Rosário, o que não impede que se apresentem durante os festejos mais dois Reis, dos Congos e o do Reisado.
A FESTA DO ROSÁRIO.
Possivelmente, Manoel Antonio de Maria Cachoeira, teria sido o fundador da Irmandade do Rosário, o criador da Festa do Rosário no ano de 1895, e celebrada a cada primeiro domingo de outubro.
A Festa se restringia praticamente ao ato religioso e a tradicional procissão, anualmente, com objetivo de arrecadar mais recursos para manutenção e conservação da velha igreja. O profano: bebidas, parque de diversões, jogos de azar, festas dançantes etc., surgiu com o tempo.
Antecedendo nove dias da Festa do Rosário, que ocorre no primeiro domingo de outubro, faz-se a novena na igreja. O sábado, dia de feira na cidade, é a véspera da grande festa.
Tradicionalmente, durante esse sábado, os negros dos pontões circulam com os mesários da irmandade, recolhendo dinheiro para a festa.Os negros dos pontões, dançam e bebem por todos o comércio da cidade. Milhares de pessoas começam a chegar das zonas rurais do município para a cidade. Ao entardecer tem lugar a grande procissão do Rosário.
Os grupos folclóricos, com suas roupas características, vão ingressando na igreja e se apresentando n a capela-mor. Em seguida, com a irmandade reunida e o templo repleto de devotos celebra-se a missa, em meio a zabumbas, fole, pífes, e maracás.
Encerrada a parte litúrgica, o rei e a rainha, que se achavam na capela-mor, com o padre, a irmandade e os grupos folclóricos, recebem o Santo Rosário, para conduzi-lo em procissão.
O rei veste um corpete azul celeste, de grande gola branca bordada em dourado, sobre uma camisa branca de mangas compridas e calça azul-escuro; na cabeça a coroa real, na mão um cajado enfeitado.
A rainha traja um vestido comum, com de rosa, costurado para a festa, a cabeça coberta por um véu curto, sobre o qual assenta uma pequena coroa. O Rosário de prata e cristal é conduzido em um salva de prata coberto de fina rendas.
Inicia-se a procissão. A Irmandade abre o cortejo com uma grande cruz azul. Os irmãos vestem opas zaul e branco e seguem em dois cordões. Ao centro o rei e a rainha conduzem o rosário, seguidos de perto pelo Oficiante. A frente da Irmandade os negros dos pontões abrem caminho em meio a grande multidão, com suas lanças-maracas enfeitadas de fitas multicoloridas, como uma guarda militar do cortejo. Ao final os congos e uma banda de música encerram o cortejo.
A multidão que atravessou pelos becos becos e ruas enche a estreita Rua do Rosário. Os negros dos pontões abrem caminho e se postam à porta da residência do Juiz-Rei da Irmandade, cruzando as lanças sob as quais passa o cortejo.
Na sala da frente da humilde casa está armado um pequeno altar, onde o rosário passará a noite, em vigília da Irmandade.
Drante a vigília os irmãos vão rezando rosários sucessivos e cantando benditos. Centenas de devotosingressam, aos pouco na casa, para acompanhar a reza e beijar o rosário, ajoelhando-se piedosamente junto ao altar doméstico.
No centro da cidade, estão armados os parques de diversões ao som de musicas, comidas, jogos de azar, bebidas por diversos bares, passeios em praças, o que normalmente as pessoas “virem a noite” em festa a espera da Procissão do Rosário na manhã seguinte.
A PROCISSÃO DO RETORNO
No domingo da procissão, que se realiza às 08h00min horas da manhã, saindo da casa que constitui patrimônio de Nossa Senhora do Rosário para a igreja e acompanhada do padre da freguesia. A Irmandade abre o cortejo e com uma grande cruz azul. Os irmãos vestem a opas azul e branco e segue em dois cordões. Ao centro o Rei e a Rainha conduzem o Rosário, bonito em prata e contas de cristal, seguido de perto pelo Oficiante. Ao final, os Congos e a Banda de Musica fecham o cortejo.
Depois da caminhada em procissão, ao som de zabumba e pífano, a multidão de fiéis se concentram para acompanhar a missa campal, em frente à Igreja do Rosário. A multidão, em obediência ao ato solene, permanece ao sol aberto e quente do alto sertão. Os destaques são das pessoas que vão pagar suas graças e promessas alcançadas: Coroa de espinhos na cabeça, vestimentas de São Francisco, pedras na cabeça e outros estranhos pagos de sacrifícios prometidos a Virgem Santa. No ato final, o padre coloca o Rosário entre as mãos postas e dá a Benção do Rosário, os sinos badalam, a multidão de fiéis, curva, reza agradecida, e alguns choram com a realização. Depois do ato litúrgico, os penitentes colocam as coroas de espinhos de mandacaru, pedras e outros sacrifícios ao pé do Cruzeiro da Igreja. Em seguida, políticos e outras pessoas percorrem as barracas fazendo coleta de dinheiro para a festejada Nossa Senhora do Rosário.
OS CONGOS.
Em sua origem. No grande dia da Festa do Rosário, acompanham a procissão até a igreja, onde assistem a missa e outras cerimônias religiosas. Depois sai em visita as famílias da cidade, formando em duas alas, com maracás nas mãos, encabeçadas pelo secretario e embaixador, ao centro o “reis”, de palito e guarda-chuva aberto. O guarda-chuva sempre fez parte do traje real. Durante o cortejo, os Congos nem cantam nem dançam, raramente rufam os maracás. Chegando à residência escolhida para dançar, pedem licença e entram para o terraço ou sala de visita. O dono da casa oferece uma cadeira ao “reis” e em sua observância inicia-se a dança que é bem característica. Depois da exibição, o dono da casa oferece bebidas ou oferendas em dinheiro. Os Congos fazem poucas exibições, geralmente quatro, em residências diferentes, depois se retiraram para suas casas ou vai aos bares beber.
Os Congos
OS NEGROS DOS PONTÕES
Originalmente, os Pontões exibem-se em dois cordões, o encarnado e o azul. O grupo mora na zona rural, sendo constituídos quase todos da mesma família. Na cabeça usam chapéu de palha, enfeitados de fitas coloridas. Trazem lanças (Pontões) terminados em maracás, enfeitados de fitas multicoloridas. Os Pontões usam lanças tanto para abrir caminho na multidão durante a procissão, quanto para fazer exibições na dança e, sobretudo para marcar, com o rufar dos maracás, o ritmo de suas músicas. O acompanhamento é feito por uma banda cabaçal, constituída de tambor, pratos, fole e o pífano, além dos maracás das lanças. Os Pontões não cantam. No sábado que precede o domingo da procissão, alguns membros da confraria do Rosário percorrem feira de rua da cidade angariando donativos que serão destinados a conservação e manutenção da velha igreja. Esses membros da Confraria geralmente estão acompanhados dos Negros dos Pontões, os quais danças e bebem cachaça, e, com suas lanças enfeitadas de fitas coloridas, colocam as lanças nos ombros ou na cabeça das pessoas, nas solicitações de dinheiro em benefício da Santa do Rosário.
Os Negros dos Pontões
O REISADO
Dos três grupos folclóricos que se apresentam na Festa do Rosário, certamente, o que mais chama a atenção é o Reisado, devido à diversidade de suas músicas e danças. Os ritmos das musicas são marcados por um violão e pandeiro, um apito, sapateado e o canto ritmado com o conjunto.
O Reisado apresenta-se com seu Reis, Secretário, o General, o Mateus, a Burrinha além dos folgazões. Todos os participantes do grupo portam espadas feitas de madeiras. Além dos cantos soltos, também apresenta a parte dramática do festejo, com embaixada e guerra. O entrecho dramático narra o que poderia ser uma revolta na corte do rei, comandada pelo secretário. O Matues, figura diabólica, troca o sentido do embaixador e precipita a guerra. Ao final morrem o “reis” e o secretário, sobrevivendo o Mateus e o General. O Mateus é consultado sobre a duração da guerra e verifica as horas em um relógio sem ponteiro. A seqüência é encerrada com uma exaltação a bandeira brasileira.
OBS.
O Reisado foi criado para se comemorar do dia Rei, no mês de janeiro, como não teve muito receptividade, foi incorporado a Festa do Rosário de Pombal.
Reisado
Por tanto, O Prédio da Casa do Rosário, a Irmandade dos Negros do Rosário, os grupos folclóricos “Os Pontões”, “Reisado” e “Congos”, são agora bens de natureza imaterial tombados e compõem o patrimônio cultural de Pombal, sertão da Paraíba.
Claudionou Dantas com a colaboração preciosa de Verneck Abrantes (Agrônomo, historiador, pesquisador e escritor pombalense)