
A partir de uma ideia do escritor pombalense, Jerdivan Nóbrega de Araújo, importante projeto de lei deverá ser apresentado na Câmara Municipal de Pombal transformando o “Arrubacão” em patrimônio gastronômico de Pombal.
O projeto vem sendo defendido desde 2011 e agora pode ser respaldado na definição do segundo domingo de outubro como o “Dia do Arrubacão”, homenageando a nossa cidade.
Jerdivan não informou de quem partirá a propositura na Casa Legislativa, porém faz jus a uma das comidas preferidas a integrar a culinária local remontando a tradição que em Pombal é passada de geração a geração.
O escritor esclareceu que “arrubacão”, “ribacão” e “arribação” podem até parecer iguais, mas são distintos do legítimo Arrubacão de Pombal.
Todos são derivações do original, porém com receitas e modos de preparo radicalmente diferentes.
Enquanto nas versões adaptadas entram ingredientes como a pimenta malagueta, no autêntico Arrubacão Pombalense isso é heresia.
Outra diferença crucial: no “ribacão” e no arrubacão, o arroz e o feijão são cozidos separadamente e só depois misturados. Já no Arrubacão de Pombal, tudo é preparado em uma única panela, com queijo coalho, carne de sol, manteiga da terra (ou nata) e aquele arroz vermelho que só o pombalense sabe fazer.
Na Paraíba a cachaça será reconhecida como patrimônio nacional, assim como já ocorreu com o pastel de açúcar em Campina Grande o queijo de Minas e o pão de queijo também em Minas Gerais a caipirinha e a feijoada e o Bolo de Rolo em Recife.
“Se pratos e tradições tão diversos ganham status de patrimônio, por que também não o Arrubacão, que carrega em si a alma da cidade e do povo de Pombal?”, lembrou Jerdivan.
Em suas viagens a Brasília, costuma almoçar no restaurante subsidiado da Câmara Federal e lá há duas opções intrigantes: “Ribacão” (do Rio Grande do Norte) e Arrubacão de Pombal.
Certa vez perguntou a um garçom a diferença entre os dois. Ele explicou que o Arrubacão chegou ao cardápio por um cozinheiro de Pombal, daí o nome “Arrubacão de Pombal”. Antes, só havia o “Ribacão”.
A diferença não está só no nome. O Arrubacão é mais cremoso e unificado, enquanto no “Ribacão” o feijão e o arroz são soltos, quase que um “baião de dois” disfarçado.
Já em João Pessoa no Bairro da Torre havia um bar de proprietários pombalenses que servia o “Arrubacão de Pombal”.
Em Natal, existiu um restaurante que vendia o “legítimo Arrubacão de Pombal” – Uma prova de que a fama do nosso prato ultrapassou as fronteiras da terrinha.
Jerdivan Nóbrega também justifica que reza a lenda que o Arrubacão nasceu nas sombras das ingazeiras do Rio Piancó, em panelas de barro artesanais feitas por seu Jubinha.
“Os domingos em Pombal eram marcados por encontros de boêmios sob as oiticicas, violas na mão e cuias de cachaça no pé. Cada um contribuía com algo: um levava o feijão macassar, outro a carne de sol, outro o queijo coalho. O cozinheiro da vez montava o fogão entre três pedras e cuidava da panela, que ficava guardada no local para as próximas farras”, relata.
A ordem do preparo era sagrada: primeiro o feijão e a carne, depois o arroz vermelho. Por fim, o queijo e a nata – tudo na mesma panela, sem pressa. O leite só entrou na receita décadas depois, quando o prato migrou das margens do rio para as mesas das casas. E a cachaça? Essa nunca faltou.
Assim como a feijoada carioca e o samba (que nasceram na Bahia) ou o frevo pernambucano (de raízes baianas), o Rubacão corre o risco de ter sua história apropriada por outras cidades.
“Se Pombal não oficializar sua autoria, qualquer “aventureiro” poderá reivindicá-lo. Não se trata de mudar a Constituição, mas de uma simples “leizinha municipal” para garantir que todo pombalense tenha o direito à felicidade de ver seu prato consagrado”. concluiu.
Para o ilustre conterrâneo que não esquece as suas raízes, não se pode permitir que as doses de cachaça tomadas na “Oiticica de Ana”, no “Araçá” ou na “Panela” – locais históricos da boemia pombalense – tenham sido em vão.
Sendo assim, o Arrubacão é mais que comida: é memória afetiva, resistência cultural e identidade do nosso povo pombalense.
Marcelino Neto
Com informações de Jerdivan Nóbrega