A dois meses das eleições presidenciais, o governo da Argentina anunciou que vai começar um processo de extensão dos prazos de vencimento de sua dívida com credores estrangeiros e renegociar os prazos de pagamento da ajuda recebida do Fundo Monetário Internacional (FMI). As medidas foram detalhadas nesta quarta-feira, 28, pelo ministro da Fazenda, Hernan Lacunza, logo depois de a cotação do dólar ter chegado a 60 pesos e de a taxa de risco-país ter superado 2.100 pontos básicos.
“Propusemos ao FMI iniciar o diálogo sobre o reescalonamento dos vencimentos da dívida”, afirmou Lacunza, referindo-se à ajuda financeira recebida pelo país do Fundo em 2018.
Lancuza expôs quatro medidas: 1) prorrogação em três a seis meses dos prazos da dívida de curto prazo nas mãos de investidores institucionais; 2) a extensão voluntária dos prazos de bônus emitidos, sem reduzir seus capitais nem remunerações, que terá de ser submetida ao Congresso; 3) negociar com os bancos da extensão dos prazos dos bônus com jurisdição estrangeira, nas mesmas condições; 4) iniciar uma conversa com o FMI sobre o reescalonamento da dívida, como sugeriu a oposição argentina.
Os objetivos dessas iniciativas, segundo o ministro, serão “impedir que o dólar e a inflação subam ainda mais” e “aliviar a carga financeira” do país em curto e médio prazos. A taxa de inflação nos últimos 12 meses encerrados em julho alcançou 54,4%. As medidas refletiram a instabilidade vivida no país nos últimos dois dias, com acentuada desvalorização do peso.
O presidente Mauricio Macri, que concorre à reeleição em 27 de outubro, manteve várias reuniões com sua equipe econômica até concordar com as quatro medidas anunciadas. A ordem de Macria Lancuza foi clara, segundo o jornal Clarín: “Que nem o dólar nem a inflação subam mais, porque já estão muito elevados em relação aos salários dos argentinos”.
“Há uma incerteza que o governo tem de abordar, e o fazemos com as ferramentas que acabam de ser anunciadas”, afirmou Lacunza, que acrescentou ter antecipado as medidas ao FMI. “Estas medidas relaxam a disponibilidade de reservas para atender eventuais demandas cambiais. O efeito esperado deveria ser uma pressão menor sobre o mercado cambial.”
Os jornais argentinos evitaram qualificar as medidas como uma moratória – a suspensão de pagamentos da divida por um país. Trata-se de um artifício que Buenos Aires adotou em 2001 e em 2014 e que, em ambas as ocasiões, causou danos severos à economia e à imagem do país. Até o momento, o governo argentino se propõe a renegociar prazos, sem insinuar um cenário de interrupção de pagamentos.
Eleições
Hernan Lancuza tentou trazer a oposição para a responsabilidade pelas medidas anunciadas. Em especial, porque a renegociação da dívida do país com o FMI já estava no programa econômico do líder nas pesquisas eleitorais, o peronista Alberto Fernández, que tem como companheira de chapa a ex-presidente Cristina Kirchner. “No processo eleitoral, as equipes dos candidatos em campanha também passam a tomar parte do sistema”, argumentou.
“Nenhum governo pode seguir sozinho. Sem vocações totalitárias, nem sequer deveria tentar. menos ainda em um processo eleitoral. Precisamos do apoio de todas as forças políticas para garantir a estabilidade. Se a oposição não quiser, o governo não vai poder”, completou o ministro.
Segundo o portal Infobae, o presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Guido Sandleris, destacou ser prioridade da instituição preservar a estabilidade monetária e financeira do país, mesmo que isso signifique a postergação dos pagamentos da dívida. Sandleris acrescentou que o BCRA continuará a manter uma política monetária restritiva – a taxa de juros é de 74% – e a atuar no mercado cambial para conter a volatilidade do peso e manter o sistema financeiro sustentável.
Fonte: Veja