Um no-deal Brexit (sem acordo de transição com a União Europeia) causará congestionamento dos portos britânicos, acarretando carestia de gêneros alimentícios, medicamentos e combustíveis no Reino Unido, sugere um relatório governamental vazado para a imprensa.
Divulgado neste domingo (18.08) pelo jornal Sunday Times, o documento, de codinome “Yellowhammer”, conjetura que 85% dos caminhões usando os portais de ingresso entre a Inglaterra e a França “podem não estar prontos” para a aduana francesa.
O colapso dos portos poderá durar três meses, resultando numa redução dos suprimentos de alimentos frescos e eventualmente redundando em compras antecipadas pelo pânico.
A advertência coincide com as tentativas do novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de forçar Bruxelas a reabrir as negociações sobre o acordo do divórcio entre o país e a UE, fechado por sua antecessora, Theresa May. Johnson tem insistido que o Londres abandonará o bloco europeu em 31 de outubro, com ou sem acordo.
O relatório prevê, ainda, que os atrasos nas fronteiras causem severos distúrbios de tráfico, sobretudo em torno da capital, Londres, e do sudeste da Inglaterra, com o potencial de afetar o fornecimento de combustível. Está igualmente previsto um impacto sobre os suprimentos de remédios e equipamentos médicos, grande parte dos quais chega do continente europeu à ilha.
É sublinhado o fato de que foram fechados poucos acordos bilaterais com Estados-membros isolados da UE, exceto em relação aos direitos de previdência social; e que “se mantém em nível baixo” a disposição pública e empresarial para a retirada do Reino Unido.
Predições semelhantes por parte de acadêmicos ou outros departamentos do governo britânico têm sido descartadas como alarmismo pela ala pró-Brexit. No entanto, Johnson se encontra sob pressão intensa de políticos de todas as cores para que evite uma separação não regulamentada.
Mais de 100 deputados apelaram por uma convocação imediata do Parlamento, a fim de que se debata sobre um Brexit sem acordo. No momento o órgão legislativo se encontra em recesso de verão até 3 de setembro.
O ministro encarregado de coordenar os preparativos para o no-deal, Michael Gove, insistiu que o documento vazado é apenas um “pior dos casos”. No Twitter, afirmou que “passos muito significativos foram tomados nas últimas três semanas para acelerar o planejamento do Brexit”.
Líderes europeus têm repetidamente descartado reabrir um acordo aceito por May em 2018, mas rejeitado pelos deputados britânicos em três ocasiões. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, informou que se encontrará com Johnson na quarta-feira, mas frisando que Berlim está preparado para um Brexit desordenado.
“Estamos preparados para qualquer resultado […] mesmo que não obtenhamos um acordo. Mas em todas as oportunidades eu farei um esforço para encontrar soluções, até o último dia das negociações.”
Neste domingo, o Reino Unido também anunciou ter ordenado a anulação do European Communities Act (ECA 1972) – a lei que, 46 anos atrás, incluiu o país na Comunidade Europeia, a antecessora da União Europeia, concedendo supremacia legal a Bruxelas. O decreto de anulação, assinado na sexta-feira pelo secretário do Brexit Steve Barclay, entra em vigor em 31 de outubro.
Fonte: Poder 360