Mulher, negra, filha de um jamaicano e uma indiana. A escolha da senadora Kamala Harris como vice de Joe Biden na corrida para a Casa Branca é inédita e louvada por esses aspectos, mas a cacifa também para a eleição de 2024, como cabeça de chapa. A ex-procuradora-geral da Califórnia assumiria a posição de ponta de lança na próxima disputa, caso a dupla democrata saia vencedora nas urnas em novembro.
Aos 81 anos ao fim do primeiro mandato, seria pouco provável que Biden tentasse a reeleição, deixando o campo livre para uma indicação de Harris à Presidência dos EUA. A senadora buscou o cargo, enfrentou Biden na pré-campanha e desistiu dois meses antes da primeira prévia, em Iowa, basicamente por falta de recursos.
Foi a primeira dos pré-candidatos a apoiar a campanha do ex-vice-presidente e o fez com a mesma ênfase com que o atacou num dos debates. Harris questionou Biden por ter trabalhado com senadores segregacionistas na década de 1970, opondo-se a um serviço de ônibus escolares para levar crianças negras — ela própria uma delas — para bairros de maioria branca.
O ex-vice de Obama sobreviveu à investida sem guardar rancor à ex-oponente. Chamou-a para seu lado, limou as possíveis críticas que viriam de seu real concorrente, o atual prresidente: “Seu histórico de realizações — lutando com unhas e dentes pelo que é certo — é o motivo pelo qual a estou escolhendo”, argumentou Biden.
Kamala Harris mergulhou de cabeça na campanha para ratificar o ex-vice-presidente como candidato democrata, ajudando-o a arrecadar verbas. Biden conheceu sua agora companheira de chapa por meio do filho Beau, que morreu de câncer em 2015. Ela era procuradora-geral da Califórnia; ele ocupava o mesmo cargo em Delaware.
A escolha da senadora eleita em 2016 para compor a chapa democrata não foi uma surpresa. Estrela democrata em ascensão, Kamala Harris sempre esteve desde o início no topo da lista de mulheres cotadas para a vice-presidência.
Crítica implacável do presidente Trump, ganhou pontos ao se embrenhar na onda de protestos contra a morte do negro George Floyd, por asfixia, sob custódia de policiais brancos em Minneapolis.
Uma vitória nas urnas fará de Biden, aos 78 anos, o presidente mais velho a tomar posse nos EUA e de Kamala, aos 56, a primeira vice-presidente mulher e negra do país.
O contexto demográfico pode ter sido determinante na escolha de Biden, mas o vigor, o carisma e o estilo combativo também contaram. Especialmente para os eleitores que se preocupam com a idade do candidato democrata. “Preciso de alguém que trabalhe ao meu lado que seja inteligente, forte e pronto para liderar. Kamala é essa pessoa.” É o sinal mais claro de que a considera preparada para intervir.
Fonte: Blog da Sandra Cohen/G1