Os jogadores brasileiros que atuavam pelo Volchansk, da segunda divisão da liga da Ucrânia, deixaram o país no último fim de semana e têm chegada prevista no Brasil nesta sexta-feira. Victor Adame, Luan Borges Martins, Joanderson Normandes, Gabriel Patreze e Wendell Ramos estavam em um apartamento alugado pelo clube em Kharkiv, uma das primeiras cidades bombardeadas por estar bem próxima da fronteira com a Rússia.
A fuga da guerra incluiu mais de dois dias de viagem e cenas de terror, como nove horas parados dentro de um trem em Kiev, capital da Ucrânia, sem poderem ligar o celular para não correr o risco de serem localizados e virarem alvos de ataque. O grupo atravessou a Ucrânia, de leste a oeste, fazendo um dos caminhos do exército russo no país.
Depois de sair do território ucraniano, o grupo foi recebido e se hospedou na casa de João Paulo Araújo e Gisele Chamorra, casal de brasileiros que mora Kosice, na Eslováquia, a 100km da fronteira com a Ucrânia.
Em rede social, já nesta quinta-feira, Gabriel Patreze publicou foto no aeroporto de Budapeste, capital da Hungria, todos prontos para embarcar para o Brasil.
A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura oito dias. Victor Adame relatou o pesadelo que viveram nos últimos dias.
“Saímos no sábado por volta das 11h da manhã do apartamento. O diretor do nosso clube (Volchansk) buscou a gente e nos levou até a estação de trem de Kharkiv, mas encontramos dificuldades para entrar no vagão por conta da quantidade de pessoas que havia para pegar o trem. Após conseguir pegar o trem, que tinha como destino a cidade de Lviv (a pouco mais de 1.000km e 13h de Kharkiv).”
“Já dentro do trem, descobrimos que ele iria passar por Kiev, que era o principal alvo de ataque russo. Em Kiev, ficamos cerca de nove horas parados com o trem, com as luzes apagadas e sem poder mexer no celular para não mostrar nossa localização e que havia alguém ali. Quando chegamos, havia indícios de ataques na cidade e mesmo parados ouvimos as sirenes tocar (que alertavam sobre os bombardeios).”
“Após essas nove horas parados em Kiev, saímos e fomos até Lviv, onde pegamos outro trem até Uzhhorod, cidade à oeste da Ucrânia e fronteira com a Eslováquia (mais seis horas de viagem). Chegando em Uzhhorod, havia o auxiliar técnico do nosso clube nos esperando, junto com os contatos da embaixada brasileira na Eslováquia. Os contatos do cônsul nos buscaram na estação de trem, passou em um mercado para comprar suprimentos e nos levou até a fronteira.”
“Na fila da fronteira, ficamos cerca de 9h30 esperando para chegar nossa vez. O cônsul até tentou nos ajudar, mas havia muitas mulheres e crianças, elas tinham prioridade. Esperamos todo esse tempo na fila, enfrentamos um frio de -2°C e chegou até a nevar em certo momento. Mas fomos forte e conseguimos vencer todas as adversidades.”
Grupo de brasileiros do Volchansk, durante os dois dias de viagem para escapar da guerra na Ucrânia — Foto: Victor Adame (arquivo pessoal)
“Da saída de Kharkiv até a chegada na casa do João e da Gisele, que nos acolheram, foram dois dias de viagem –só de trem foram 32h, mais 9h e meia na fila da fronteira, mais o tempo que ficamos na estação de trem e o tempo após passar a fronteira e vir até Kosice (segunda maior cidade da Eslováquia e a 100km da fronteira com a Ucrânia)”.
Fonte: GE
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