“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento”. (O Dia, 2 de abril de 1964.)
Outra vez, cá estamos nós, 54 anos depois vivendo os mesmos dramas e sofrendo do mesmo mal. Parece que não aprendemos ou não queremos aprender com a história. O dia da mentira de 2018 é quase o mesmo de1964.
Mais de meio século não foram suficientes, ou talvez a Globo e os seus asseclas não tenham dado cabimento para que a vivência histórica nos revelasse que, sob o comando de tropas militares, tudo que resta ao cidadão é o medo da morte prematura e o pavor da vida ameaçada pelo acaso das balas perdidas.
As forças armadas que “controlam” o estado de nervos do Rio de Janeiro conseguiram, em pouco mais de um mês, nos apresentar o menu de entrada da festa grotesca que está por vir. Se os traficantes já eram convidados por antecipação, agora descobre-se que as milícias armadas (aquelas da CPI de 2008) estão ativas e mais famintas do que nunca. Marielle e Anderson podem ter sido o prato de entrada do horror que podemos ainda assistir.
Mas, existem os saudosistas que esperavam cantar glórias após a intervenção das armas. Os devotados ao estado de sítio que vêem no repeteco do golpe militar de 64 a salvação para o putrefato Estado brasileiro. Esses, que agora agonizam no mar da decepção, estão frustrados. Os tanques não assustaram nenhum corrupto no Rio.
Os militares não amedrontaram um que seja, dos afanadores dos cofres públicos. Os legalmente aramados não açoitaram, nem revistaram o bolso de nenhum colarinho branco. Por que será que não estão a fazer o que os civis adoradores de um golpe militar preconizavam?
Alguns, mais nervosos, já começam a agir por conta própria. Três projéteis acertaram um ônibus em comitiva. Isso pode ser presságio de tempos muito difíceis pela frente. A covardia de décadas votando em candidatos ficha suja pode estar se transformando em uma revolta acéfala de armas em punho. Vamos armar a população? Vamos eleger a luta armada como redentora dos votos depositados em troca de favores políticos, em troca dos empregos arrumadinhos?
É tudo uma grande mentira! Tudo que nos contaram nos livros, nas escolas, nas televisões, nos rádios, nos palanques dos comícios eleitorais. Tudo mentira. Na verdade, nada é o que parece ser! A manipulação criou uma leva de desesperados e agora a democracia está ferida de morte no Brasil. 54 anos depois e tudo começa a se repetir. O golpe de 16 continua em curso, agora com sérias ameaças de adiamento das eleições.
NO dia 13 de março de 1964, depois do comício de Jango, na Central do Brasil, os motes foram por um golpe militar para “acabar com a baderna e a corrupção” e “livrar o país do comunismo”. Um país, à época, radicalmente dividido entre reacionários e trabalhistas, direita e esquerda, civis e militares. Isso encontra alguma semelhança com os dias atuais? Atentados onde a vítima é acusada de ter forjado o crime. Isso não nos relembra os anos seguintes ao golpe de 64?
O sumiço do empresário Rubens Paiva, em 1971, a foto forjada do suicidado jornalistaVladmir Herzog, em 1975 e o próprio atentado a bomba do Rio Centro, em 1981 – que por pouco não levou a morte milhares de pessoas – e foi atribuído a uma organização armada a VPR, não nos está sendo espelhado atualmente? Esses, entre tantos outros fatos, começam a ressurgir no cenário atual, só que com um diferencial: o de estarem acontecendo antes da instalação de um possível regime militar. Dá para imaginar o que pode vir pela frente?
No Dia da Mentira contabilizamos amédia de 13 mortes/semana no combalido Rio de Janeiro. Em sua grande maioria pobres, pretos e favelados. Se a solução para os problemas brasileiros estiver sendo testada no laboratório da baia da Guanabara e os resultados são os que estamos a perceber. As eleições ficam para depois. Vamos tentar salvar a nossa pele. Corra que o exército vem aí! Por ora, a instabilidade é o regime!