“Tempos difíceis criam homens fortes.
Homens fortes criam tempos bons.
Tempos bons criam homens fracos.
Homens fracos criam tempos difíceis.”
Por muito tempo a humanidade viveu reservada ao momento presente. Os fatos, os acontecimentos, as atitudes foram guiadas pelo acaso num processo de descoberta livre e espontânea do mundo e suas leis naturais. As ações eram circunstanciais e habitavam no universo do casual, da porventura, da “sorte”.
Com o passar do tempo aprendemos a falar, a domesticar a nossa comunicação, e a partir daí todo um universo de possibilidades se apresentou, e nos momentos seguintes passamos a estabelecer e alimentar um constante distanciamento da aleatoriedade, em busca de uma perfeita e harmônica mecanização da vida humana no planeta.
A observação das variações regulares no posicionamento do Sol, da Lua e das estrelas, vieram a determinar dia e noite, meses, estações e por fim os ciclos fechados nos anos, abrindo a contagem do tempo que passamos a organizá-lo em horas, minutos e segundos. De certa forma nos apropriamos do tempo que viria a nos escravizar no futuro.
Stephen Hawking afirma que “Durante milhões de anos, a humanidade viveu como os animais. Aí algo aconteceu que libertou o poder de nossa imaginação: Aprendemos a falar” e “tudo que precisamos é continuar conversando”.
As nossas conversas e a capacidade de transmissão, que ela nos faculta, fez com que as culturas, os costumes, as descobertas, as invenções atravessassem as fronteiras, os mares, os oceanos e se propagassem por todo o orbe.
Mas, algo ficou no passado. Algo se quebrou ou esta se quebrando: a nossa vivência com o imprevisível, a nossa interação com o acaso, com a ocasionalidade, com o fortuito, o impensável, o improvável, a nossa relação ante a aleatoriedade da existência. O nosso potencial criativo, ante o inesperado, resta relegado as religiões, aos sortilégios.
Com isso a nossa capacidade criativa, nossa potencialidade inovadora e reveladora de novas soluções para novos problemas, se esvai no desprezo pelo improviso e todo o aprendizado que dele resulta. Estamos cada dia mais bitolados e encaixotados nas medidas e rotinas que a vida em sociedade nos apresenta como o real conceito de vida.
A aleatoriedade, que nos impulsiona para o autoconhecimento através dos conflitos em nossas existências, está aprisionada num passado que a sociedade contemporânea insiste me sepultar. Os cotidianos devem seguir uma trajetória demarcada – minuto a minuto – para que a ordem social não seja perturbada.
Nesse contexto qualquer coisa, ou fato, que se apresente no espaço da incerteza, leva ao pavor os humanos que por vezes não sabem improvisar e exercitar sua capacidade em ressignificar e redescobrir o mundo. Muitos desistem por não saberem enfrentar o imponderável e abrem caminho para a indiferença, a intolerância, o preconceito, a violência, a depressão e o suicídio.
A incerteza deve ser algo desejável, necessário e trabalhado no fortalecimento do homem frágil que estamos a criar. “Se pela manhã você souber com precisão como será o seu dia, você está meio morto – quanto mais precisão, mais morto você está.” Assim disse Nassin Taleb, o famoso analista de riscos líbano-americano.
Assim a vida real acontece: aleatoriamente, um instante após outro. Qualquer coisa diferente disso é luta perdida contra a natureza da existência. Nos preparemos para o inimaginável, ou nos abracemos com a pura ilusão!