“E no mundo dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós. “
(Todos juntos – Chico Buarque – Os Saltimbancos Trapalhões)
Não, não estou lunático. Michel Temer lançou candidatura à reeleição! Isso nos leva a reler Alice no País das Maravilhas (recomendação de Raul Seixas) e rever o filme de J. B. Tanko, Os Saltimbancos Trapalhões, do início da década de 80 (recomendação minha).
A adaptação de Chico Buarque para o teatro (depois adaptado para o cinema) do texto italiano de Sergio Badotti e Luis Enriquez Bacalov, discute temas como desigualdades sociais, a corrupção dos poderosos, o drama dos menores abandonados e a fome. A trilha sonora é também do grande compositor e nos remete a um saudosismo arrepiante e a reflexões atualíssimas.
Na música “Meu caro Barão” já temos, na primeira estrofe, um afago para um corrupto quando canta-se: “Onde quer que esteja, Meu caro Barão, São Brás o proteja, O santo dos ladrão!” musicando uma clara denúncia ao comportamento infame do dono do circo. Aquele que vivia a explorar, a assaltar os míseros ordenados dos contra regras no circo Batholo. Assim porta-se o mandatário maior do “circo brasil” com sua famigerada política econômica e a horripilante proposta de reeleição.
A popularidade do Barão junto aos telespectadores da época e a de Michel Temer nos dias de hoje se anulam. Contudo, o mais impopular de todos os presidentes brasileiros acredita que há um mágico hipnotizador, tipo Assis Satâ, que irá nos “popotizar” (como dizia Didi, no filme) revertendo inferno em céu… Continuemos a música: Pronto, Ponto, Tracinho, tração. Linha, Margem. Meu caro Barão.
O Temeroso disse: – “Acho que seria uma covardia não ser candidato. Porque, afinal, se eu tivesse feito um governo destrutivo para o País eu mesmo refletiria que não dá para continuar. Mas, pelo contrário, eu recuperei um País que estava quebrado. Literalmente quebrado. Eu me orgulho do que fiz. E eu preciso mostrar o que está sendo feito”, (Oi?!). Bom, o que está sendo feito até os marcianos estão vendo! Quanto a nós, temos completa dificuldade em sobrevivermos às balas perdidas!
O circo, como no filme, está indo a bancarrota, o público diminui a cada dia e já percebem o Barão como um palhaço. A plateia dos patos amarelos, paneleiros e similares não quer mais pagar pelo ingresso. O Barão fica com poucos espectadores. O circo vai quebrar? Não sem antes o Temível Barão defender o seu legado e recuperar a bilheteria até outubro! (Quê?!)
O eMeDeBista converteu-se às leis do engenheiro espacial Edward Aloysius Murphy que, já em 1949, avisou – “Não importa quantas vezes uma mentira for demonstrada, sempre haverá uma porcentagem de pessoas que acreditam que é verdade.” Traduzindo em números esse percentual é de 6%. Convertendo em ingressos o circo já deveria ter cancelado o espetáculo e desarmando a lona. Sigamos cantando: Linha, Margem, Etcétera e tal. Pronto. Ponto. E ponto final!
Mas, Mark Twain, escritor e humorista norte-americano nos disse que uma mentira pode dar meia volta ao mundo enquanto a verdade ainda está calçando os sapatos. Talvez nisso, o aflito Barão Michel Miguel Elias Temer Lulia esteja confiante. Essa ânsia por uma reeleição quiçá fosse incongruente meses atrás, porém o temeroso Barão já escapou de duas investidas pelo fim do seu picadeiro. Com essa estimulante verdade, animou-se!
E nós, o que desejamos que seja verdade? É importante nos fazermos essa pergunta! O que queremos por verdade é o trapézio em que nos alçaremos e do qual nos atiraremos em queda livre com a certeza de que não vamos nos espatifar no chão, desde que tenha uma outra pessoa, no mesmo número espetacular, a nos dar sustentação. Sozinhos o solo é o fatal caminho
O filme, estrelado pelos Trapalhões Didi, Dedé, Mussum e Zacarias encerra com uma linda música, interpretada por Lucinha Lins que nos traz, ainda hoje, um inspirador refrão: Todos juntos somos fortes. Somos flecha e somos arco. Todos nós no mesmo barco. Não há nada pra temer. – Ao meu lado há um amigo, que é preciso proteger. Todos juntos somos fortes. Não há nada pra temer!